O que esperar da inteligência artificial em 2025
Taxa de evolução
de GPT e outros modelos de linguagem deve diminuir, mas algoritmos que fazem
tarefas por nós é aposta
Nunca se falou tanto sobre IA e nunca foi tão
difícil discernir seu futuro a partir do que é dito. Sundar Pichai, CEO do
Google, admitiu que o progresso está se
tornando mais difícil, visão compartilhada por Ilya Sutskever,
pesquisador número um do campo, e pelo mercado financeiro.
Por outro lado, o novo modelo o3 da OpenAI acaba de ultrapassar o
desempenho médio humano em um teste de generalização e
tratamento de problemas novos (87,5% versus 85%), criado justamente para saber
quando teremos inteligência artificial geral.
A famosa pergunta sobre a
capacidade da IA ser genuinamente inteligente acaba de ser respondida de forma
irrefutável.
A contradição que se observa é só aparente. Os
grandes modelos de linguagem (LLMs), do tipo GPT, evoluem seguindo a lógica de
um líquido enchendo vasilhames.
A base é formada pela quantidade de neurônios
na rede neural e pelo poder de processamento (GPUs), enquanto a altura vem dos
dados disponíveis para criar seu repertório. Tradicionalmente, basta aumentar
uma dessas dimensões para a IA melhorar de forma correspondente.
Isso irá parar em algum ponto, mas não há
evidências de que tenhamos chegado lá.
O verdadeiro problema é que os dados
úteis estão se tornando escassos, o que significa que é preciso investir mais
nas outras duas dimensões, as quais vão se tornando cada vez mais custosas.
A
conclusão é que deve haver mesmo uma redução na taxa média de evolução dos LLMs
no ano que vem.
Por outro lado, novas técnicas estão sendo
exploradas, como no caso do o3, que segmenta os problemas em etapas, gera
múltiplas soluções para cada uma delas e depois seleciona as melhores.
Não é
por acaso que essas criações são chamadas de modelos de raciocínio,
em oposição aos de linguagem.
O progresso desses produtos ocorre menos pelo
investimento em dados e placas de vídeo na fase de criação que por IAs
auxiliares e processamento intensivo dos
desafios em si.
Seus impactos deverão ser especialmente
importantes para as ciências e programação.
Outra aposta para 2025 são os algoritmos que
transcendem a relação estímulo-resposta existente e efetivamente fazem as
coisas em nosso lugar.
A base para o seu funcionamento é a mesma das IAs de
raciocínio, exceto que a segmentação em etapas incide sobre a sequência de
tarefas a serem realizadas, combinando planejamento e tomada de decisão.
Por exemplo, primeiro o software acha um curso de
origami ao seu gosto.
Então, identifica os materiais necessários, faz cotações,
coloca isso tudo em múltiplos carrinhos e envia um email para você fechar a
operação. Essas IAs, ainda embrionárias, estão sendo chamadas de agências.
Elas são
especialmente interessantes para o Google pois funcionam atreladas a
navegadores e emails.
Algoritmos
generativos pouco mudaram as rotinas de trabalho, que são baseadas em ação e
não apenas em informação.
É provável que isso comece a mudar conforme os
agentes sejam incorporados pelas empresas, onde não apenas podem substituir o
trabalho humano quanto ocupar o lugar de apps e automações, que poderão ser
desenvolvidos conforme a necessidade pela própria IA.
O
ano que vem não promete ser muito bom para quem se preocupa com o avanço da
tecnologia sobre os empregos de escritório, mas certamente será melhor do que
2026.
ÁLVARO MACHADO DIAS -
neurocientista, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) e sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind