O que fazer se fizerem
uma deepfake com você?
É possível produzir material pornográfico
falso em menos de cinco minutos e causar traumas irreversíveis.
Na
semana passada, o mundo acompanhou atordoado a viralização de imagens
pornográficas falsas da cantora Taylor Swift.
Essas deepfakes foram espalhadas
no Twitter (X) e rapidamente alcançaram milhões de visualizações.
As
plataformas agiram rápido para remover boa parte das imagens e tornaram o nome
da cantora impossível de ser buscado por algumas horas. Mesmo assim o estrago
foi feito.
Se
isso pode acontecer com Swift, o que dizer de cada um de nós?
A cantora é a
maior celebridade do momento. Faturou US$ 2 bilhões (R$ 1,27 bilhões) no ano
passado.
Tem advogados e gestores de imagem à sua disposição. Mesmo assim, não
conseguiu conter a viralização dos deepfakes.
O que fazer se algo assim acontecer com você,
no Brasil? Primeiro, vale lembrar que fazer deepfakes pornográficos hoje é
simples. Há vários aplicativos que geram imagens de nudez com uma simples foto
da pessoa.
Outros permitem trocar o rosto em uma cena pornográfica, inserindo o
da vítima.
Se algo assim acontecer, infelizmente caberá à
vítima tomar as providências para conter os danos. A primeira é documentar o
crime.
Obter registros das imagens divulgadas, das plataformas onde estão, dos
endereços e perfis que estão divulgando.
Feito isso, é fundamental notificar as
plataformas imediatamente sobre o ocorrido.
Graças ao Marco Civil da Internet existe um artigo na lei que
obriga as plataformas a removerem imagens e vídeos com cenas de nudez e atos
sexuais divulgadas sem autorização.
Isso fez com que as plataformas criassem um
canal de denúncias permanente para esse tipo de conteúdo.
A vítima pode se
valer desse canal para pedir a remoção imediata da deepfake. O link pode ser
encontrado na Central de Ajuda do Facebook e na página "remover
informações" no caso do Google.
Outra
medida importante é fazer uma notícia-crime (boletim de ocorrência).
Caso
exista uma delegacia de crimes cibernéticos próxima à vítima, vale fazer lá
(atualmente há delegacias desse tipo na maioria dos estados).
Se não houver,
procure uma delegacia normal (ou faça o boletim online, para fins de
preservação de direitos).
A
vítima pode então tomar medidas judiciais contra quem disseminou as imagens e
contra as plataformas, se não tiverem removido as imagens prontamente após a
notificação.
Também com base no Marco Civil, é possível obter os registros de
conexão dos divulgadores, o que ajuda a identificar quem está por trás do
crime, mesmo se a conta for anônima ou falsa.
Se
a vítima for adulta, a pena para quem divulga foto ou vídeo de pornografia sem
o consentimento é de 1 a 5 anos de prisão.
Se a vítima for criança ou
adolescente, pelo ECA, quem divulga está sujeito a pena de reclusão de 3 a 6
anos. Se as deepfakes ficarem caracterizados também como
"cyberbullying", há penas adicionais de 2 a 4 anos de prisão.
Vale
notar que a lei não diferencia se a cena é real ou não. Muitos advogados
(incluindo este colunista) defendem que o texto atual já se aplica às
deepfakes.
Infelizmente,
a maior parte das deepfakes pornográficas hoje são feitas na escola envolvendo
menores. São colegas querendo zoar alguém, em geral mulheres.
Por essa razão, é
fundamental que os pais e responsáveis conversem e eduquem seus filhos sobre o
tema.
Fazer um deep fake pornográfico pode levar menos de 5 minutos. Uma gota
comparada ao oceano de danos e penas que pode causar.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro.