"Você
pode fazer duas horas [de aula] por dia e ter uma educação excelente ou oito
horas e ter uma educação porcaria", essa é a opinião de Vitor Paro,
professor titular da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
Ele se refere à animação (por vezes exagerada e ingênua) em relação à educação
integral como caminho para melhorar a qualidade do ensino público.
Vitor Paro é professor titular da Faculdade de Educação da
USP
Logo em seguida, Paro
explica que não é contra aumentar o tempo de aula, mas acredita que esse é apenas
um dos requisitos para uma educação de qualidade. O pesquisador é um dos
autores do livro "Escola de Tempo Integral - Desafio para o EnsinoPúblico", que pode ser baixado gratuitamente na
internet.
"A razão da má
escola não é a falta de tempo. A escola que está ai não é ruim porque tem pouco
tempo, ela é ruim porque tem um método ultrapassado e não existe a preocupação
de educar. Só existe a preocupação de passar de ano. A nossa escola não é ruim
hoje, ela sempre foi ruim", afirma o professor.
Mais horas na escola
O professor e
pesquisador da USP chama a atenção: antes de estender o período dos alunos na
escola é preciso pensar na qualidade das atividades. Caso contrário, existe o
risco de multiplicar a precariedade por dois -- principalmente na escola
pública. Ele aponta que ainda existe uma confusão entre o papel social e o
educacional da escola em tempo integral. Muitas vezes o foco está em tirar o
aluno da rua em vez de se priorizar a qualidade do ensino, como se fosse
suficiente atingir o primeiro.
Para explicar, ele
compara o processo de aprendizagem de crianças ricas e de pobres:
"As crianças ricas já têm educação de tempo integral, mas não é que a
criança tem que ir para a escola e ficar confinada. De manhã, ela tem aula e no
outro período ela vai na academia, no futebol, aprende piano, aprende língua,
ela tem propriedade de aprender o dia inteiro", diz.
E ele aponta ainda a
importância do ambiente cultural, que é diferente conforme o poder de compra:
"Eles [os estudantes de famílias mais ricas] têm acesso a teatros,
bibliotecas, ideias mais avançadas. Não é isso que oferecem para as pobres [na
escola pública], o que você propõe é que o mesmo que ele faz de manhã ele faça
a tarde".
Ainda assim, o professor
acredita que os alunos mais carentes acabam tendo uma melhora, pois o tempo
adicional também é usado para revisões e brincadeiras, que, segundo ele, são
importantes no processo de aprendizagem.
O educador fará uma
palestra sobre o tema na tarde desta quinta-feira (22) na 21ª Educar/Educador,
feira e congresso de educação, que acontece até o dia 24 de maio, na cidade de
São Paulo.
O que é educação integral
Numa escola de tempo
integral, o aluno teria sete horas de atividades. E a intenção é que as
crianças e os adolescentes possam desenvolver outras habilidades e competências
nas horas a mais. O foco estaria não apenas em reforço escolar, mas no
desenvolvimento de projetos de esporte, comunicação e artes, sustentabilidade e
educação ambiental.
A meta do governo
federal para 2014 é atender um total de 7 milhões de alunos em 2014 por meio de
um programa chamado Mais Educação.
Vitor Henrique Paro -
possui mestrado em Educação pela USP, doutorado em Educação pela PUC-SP e
livre-docência em Educação pela USP. Foi pesquisador sênior na Fundação Carlos
Chagas e professor titular na PUC-SP. Atualmente é professor titular
(Colaborador Sênior) da Faculdade de Educação da USP, onde exerce a pesquisa, a
docência e a orientação de discípulos em nível de pós-graduação.
Fonte: site controversia