Fé e religião são usadas como instrumento retórico
nas redes sociais
Na semana da
Paixão de Cristo e Páscoa, aumentam as menções a Judas, Jesus e Barrabás nos
debates políticos nas redes sociais analisadas pela Palver
O uso de símbolos religiosos na esfera política se
disseminou nas redes sociais na semana da Páscoa.
Aproveitando-se de que as histórias
como a do caminho do calvário de Jesus e da traição de Judas são amplamente
divulgadas nas missas, cultos ou em filmes na televisão, os políticos
aproveitam para se elevar ou atacar seus adversários através de analogias.
É uma estratégia comum das equipes de comunicação
de fazer associações com imagens e eventos que sejam consolidados no imaginário
popular.
Dessa forma, utilizar trechos da Bíblia para reforçar uma ideia ou
fazer comparações facilita a compreensão da mensagem transmitida.
O uso de parábolas, metáforas e analogias não fica
restrito aos profissionais de comunicação.
Grande parte dos bons contadores de
histórias faz uso desses recursos para ampliar a ressonância com seus
interlocutores.
Por essa razão, as histórias bíblicas ganham relevância por
serem amplamente conhecidas e lembradas.
Na semana passada, por exemplo, Davi, um dos
participantes do Big Brother Brasil, contou ao vivo a história
de Davi e Golias para reforçar sua fé e um dia após briga com outro participante do reality.
A
história é muito utilizada para transmitir esperança de que alguém com menos
força ou expressão é capaz de vencer o "gigante".
No monitoramento de redes sociais realizado pela
Palver, tanto Lula (PT) quanto Jair Bolsonaro (PL) foram os maiores
alvos de vídeos, imagens e áudios relacionados ao uso de simbologias
religiosas.
As duas cenas mais utilizadas foram a traição de Judas e o
sofrimento de Jesus infligido por soldados do Império Romano.
Nos mais de 60 mil grupos de WhatsApp e Telegram analisados pela empresa, os termos associados a
Judas tiveram um crescimento de mais de 500%, carregados principalmente pelos
grupos de direita, que fizeram montagens com a foto de Lula para convocar a
"malhação do Judas".
Nas imagens, Lula aparece amarrado a um poste
cercado de pessoas ao redor com pedaços de pau.
Em uma das postagens marcadas como
"encaminhada com frequência" pelo WhatsApp, o texto dizia que é dia
de malhar "o maior Judas do Brasil", junto com a imagem em que Lula
aparece com os números 666 em sua testa.
Outra mensagem com algumas ocorrências
diz que "esse é pior que Judas pois enganou até o povo dele, petessada
trouxa".
Também se popularizou no WhatsApp e TikTok um vídeo em que um pastor, ao
celebrar o culto, compara Lula e petistas ao "Satanás" e diz que
Jesus é da direita, pois "é pela família".
O pastor finaliza o vídeo
dizendo que "não tem PT, não tem esquerda, não tem Lula que vai
desconstituir aquilo que Deus constituiu, a família".
Outro personagem bíblico bastante utilizado nos
grupos de direita foi Barrabás.
Uma charge com alta disseminação nos grupos
tanto de WhatsApp como de Telegram trazia um desenho de Jesus crucificado e
duas cruzes vazias ao lado com o informe de que "esse ano não teremos o
papel de ladrão" e que "todos os figurantes foram nomeados ministros
junto com o ator principal, o Barrabás".
Já nos grupos de esquerda, usuários compartilharam
montagens em que Bolsonaro aparece no lugar dos soldados romanos que bateram em
Jesus.
Em todas as montagens, a frase, outrora usada por Bolsonaro, "Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso" era
acompanhada de imagens em que Jesus era flagelado por Bolsonaro a caminho do
calvário.
Na sexta-feira (29), o MTST postou em suas redes sociais uma
foto em que dois soldados aparecem ao lado de Jesus na cruz com o comentário de
que "bandido bom é bandido morto".
Essa publicação foi intensamente
explorada por políticos de direita para criticar tanto o movimento como Guilherme Boulos (PSOL), apontando que se
trata de um ataque à fé e aos cristãos.
FELIPE BAILEZ e LUIS FAKHOURI -
fundadores da Palver, coluna traz perspectivas sobre os dados extraídos de
redes sociais fechadas.