A extinção massiva de postos de trabalho, dada a
crescente automação de atividades rotineiras, tem trazido grandes incertezas,
semelhantes em dimensão, com o que ocorreu no passado durante a Revolução
Industrial. Como sabemos que os luddistas, os quebradores de máquinas do início
do século 19, tiveram pouco sucesso em interromper o curso da história, cabe à
sociedade pensar em formas de se preparar para o futuro do trabalho.
Não é por acaso que o tema do T20, o encontro de
"think tanks" ou centros de pesquisa dos países que integram o
G20 que ocorre esta semana em Buenos Aires, é o futuro do trabalho. Na mesmo
sentido, o próximo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a
ser lançado em novembro, também se debruça sobre o assunto.
O cenário pode ser catastrófico: segundo Carl Frey e
Michael Osborne, pesquisadores da Universidade de Oxford, até 2030, cerca de 2
bilhões de empregos serão extintos. Não é necessário mencionar os milhares de
postos de condutores de ônibus, táxi ou metrô que perderão seus empregos com o
carro autodirigível, a abertura da loja da Amazon sem pessoas operando o caixa
ou os funcionários de telemarketing que já vêm sendo substituídos por gravações
de artistas de renome, para se ter a dimensão do que pode ocorrer em poucos
anos.
Isso obriga os países a repensar sua educação. Sim,
novos empregos serão criados, mas demandarão competências distintas das que
hoje dispõe boa parte da força de trabalho existente no mundo, o que demanda
dois tipos de ação: a preparação das novas gerações que ainda não estão no
mercado de trabalho e o retreinamento de trabalhadores que não só aprenderam o
seu ofício, mas terão que aprender a lidar com um futuro em que trabalhos podem
ser extintos de tantos em tantos anos.
O ecossistema educacional, no caso brasileiro, terá que
enfrentar a questão da ainda baixa qualidade da educação básica em competências
cognitivas essenciais, como letramento, interpretação de textos e raciocínio
matemático elementar, ao mesmo tempo em que torna possível a aquisição de habilidades
próprias para os tempos que vivemos, como colaboração, solução criativa de
problemas e o protagonismo de sua própria aprendizagem. Para tanto, as próprias
instituições educativas terão que se reinventar, pois claramente não serão as
universidades e escolas tradicionais que darão conta desse novo contexto e de
suas demandas.
O preço a ser pago pela inação e falta de
"aggiornamento" institucional será maior instabilidade e sofrimento
social. E como sabemos, instabilidade gera medo, um péssimo conselheiro em
assuntos de cidadania e um parceiro frequente de populismos de todos os tipos.
Claudia Costin - professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi
diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da
Administração.
Fonte: coluna jornal FSP