Dinheiro do trabalhador, quem diria, pode ajudar a aquecer a economia
O governo decide, mais uma vez, liberar parte do saldo do FGTS, com a esperança de aquecer a enfraquecida economia, produzindo um sopro no consumo das famílias.
A medida é vista com bons olhos pelos que usam a lente da macroeconomia para fazer a leitura de seu impacto; a equipe econômica espera injetar R$ 30 bilhões no mercado. Isoladamente, sem as reformas que precisam ser feitas, a chama logo se extingue.
Empresas do ramo da construção civil não apoiam a medida porque receiam que pode faltar recurso para as obras do Minha Casa Minha Vida, considerando que os financiamentos para a compra e a construção das casas usam recursos do FGTS.
Não é possível antecipar como as famílias usarão o dinheiro; consumindo mais, como deseja o governo, pagando dívidas, como desejam as instituições financeiras credoras, ou investindo, mantendo uma reserva financeira, necessária para atravessar períodos difíceis, como o atual.
O trabalhador, dono do dinheiro, deve utilizar os recursos em seu próprio benefício, independentemente dos impactos na economia, e tem, basicamente três opções.
1) Consumo: antes de consumir, deve verificar se existem outras prioridades na fila, não comprar nada por impulso só porque a economia do país precisa da sua contribuição. Adquirir bens ou serviços de primeira necessidade; as vontades podem esperar um pouco mais.
Ultrapassar o limite disponível, contrair dívida ou parcelar a compra, perigo à vista. A recomendação é gastar somente o que for liberado.
2) Amortizar empréstimos: fazer pequenos pagamentos, amortizando pelo menos parte da dívida, sinaliza ao credor a boa-fé do devedor em relação ao compromisso assumido, abrindo espaço para renegociar o montante da dívida.
Se as instituições financeiras percebem a intenção de resolver o problema, tendem a propor uma solução negociada, reduzindo ou perdoando os juros e aumentando o prazo para que as prestações caibam no orçamento do cliente.
3) Investir: se a necessidade de sobrevivência está resolvida, investir é, de longe, a melhor opção. Os recursos depositados no FGTS são miseravelmente remunerados, com juros de apenas 3% ao ano. Menos da metade da taxa básica da economia, bem inferior à remuneração dos depósitos em poupança. Com rendimento abaixo da inflação, entrega ao trabalhador juros reais negativos, corroendo o capital depositado no FGTS ano após ano.
Optar por investir, em detrimento do consumo, demonstra coerência com o objetivo pelo qual o FGTS foi criado, o de permitir acumulação de recursos de longo prazo, formação de uma reserva financeira para aposentadoria, desemprego ou aquisição de casa própria, entre outras motivações.
O raciocínio é o seguinte: manter o dinheiro aplicado, em segurança, melhorando os rendimentos. Trocar rentabilidade nominal líquida de 3% ao ano por outra cerca de 70% melhor. Investir com baixíssimo risco, rentabilidade boa, liquidez imediata e baixo custo. Que aplicação reúne todos esses atributos? O Tesouro Direto. E não precisa ser rico para ter acesso a essas condições.
O título Tesouro Selic remunera 100% da taxa Selic. Deduzido o custo de investir de 0,25% ao ano (taxa de custódia da B3) e o Imposto de Renda de 15% (prazo superior a dois anos), o retorno do trabalhador sobe para 5,30% ao ano. Bem melhor do que 3%, não é?
O cobertor é curto. Quem optar pelo consumo não amortizará dívidas nem poupará para o futuro. Compete ao trabalhador, dono do dinheiro, escolher o que é melhor para ele.
Marcia Dessen -planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP