Excesso de burocracia pode diminuir engajamento e produtividade,
além de trazer problemas de relacionamento.
A
burocracia empresarial surgiu em função da necessidade de regras e
procedimentos que pudessem melhorar a eficácia e a qualidade da gestão em empresas
cada vez mais complexas. Entretanto, o desempenho de uma equipe tende a cair
quando essas normas, formulários ou documentos carecem de inteligência lógica e
prática e se tornam um fim em si mesmo. Quando o custo e o esforço
desse processo ou comportamento burocrático impede a agilidade, eficácia e
velocidade da equipe para conseguir realizar os seus objetivos, podemos dizer
que temos um
problema.
Enumero 08 sinais de que a gestão de uma empresa ultrapassou
essa barreira e pode ser considerada burocratizada e, portanto,
contraproducente:
1) “Não estou autorizado a fazer
isso”: Um dos sinais é a necessidade de autorizações de superiores
para realizar tarefas ou trabalhos que todos sabem que devem e podem ser feitos
por qualquer um. Esse delay entre a espera pela autorização e a resolução da
situação pode afetar a produtividade de toda uma equipe.
2) Reunião diária é lei: Ter que
fazer obrigatoriamente reuniões sem pauta, sem objetivos ou sem disposição para
resolver os problemas que todos já conhecem apenas por causa de uma norma
diminui a produtividade. Os funcionários acabam perdendo tempo e ficando
entediados.
3) Tudo é urgente e prioritário: Instigar
funcionários a terem senso de urgência e ao mesmo tempo dizer que tudo é
prioridade não faz sentido. O profissional precisa administrar as demandas em
níveis prioritários diferentes, garantindo um fluxo de trabalho. Tratar tudo
como “o mais urgente” só atrapalha a produtividade.
4) Quanto mais informação,
melhor: Oferecer um número de canais de informação focada em
quantidade, não em relevância de informações, é um erro. Ao invés de ajudar,
isso acaba confundindo e equipe sobre o que é realmente atual e importante para
ser feito.
5) Precisa saber de algo?
Leia esse relatório de 100 páginas: Construir e fazer a
equipe ler relatórios muito extensos, sem condensar informações é típico do
excesso de burocracia. O ideal é trazer aquilo que precisa ser entendido de uma
forma prática, se possível numa única página.
6) Cliente em primeiro lugar,
mas só depois do processo interno: Um dos sinais mais
frustrantes para os colaboradores é saber que seria possível resolver um
problema do cliente em 5 minutos, mas ser obrigado a seguir uma norma e um
processo interno que atrasa essa solução.
7) “Melhorar” o trabalho com
novos formulários: Criar novos formulários e documentos para “melhorias” que
não condizem com a realidade dos funcionários. O formulário que foi feito para
ajudar, atrapalha, pois gasta tempo demais para ser preenchido e impede o
funcionário de fazer um trabalho de alta performance.
8) Três chefes são melhores do que um: Na
empresa excessivamente burocratizada, o funcionário precisa se reportar a dois
ou três gestores. Além disso, cada um deles pede uma tarefa que é totalmente
diferente das outras em termos de objetivos e condutas empresariais. Essa falta
de foco é inimiga da produtividade e também da motivação.
O que
vale é o bom senso e o discernimento da empresa e principalmente do gestor, que
deve analisar profundamente a burocracia imposta.
É
fundamental que esses profissionais que são responsáveis pela performance de
todos os demais sejam capacitados, já que são eles que, no cotidiano, podem
dizer se as normas são realmente inteligentes e eficazes ou morosas e
irrelevantes. É o discernimento dos Gestores que pode fazer a diferença entre a
potencialização da performance e dos valores de empresas e a criação de brechas
para comportamentos ineficientes, inadequados e inconvenientes.
Eduardo Carmello — Diretor
da Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos, consultor organizacional e
educacional. Conferencista Nacional, Professor do MBA Gestão Estratégica e
Econômica da FGV-SP. Autor dos livros Gestão da Singularidade: alta performance
para equipes e líderes diferenciados (2013, Editora Gente), Resiliência: a
transformação como ferramenta para construir empresas de valor (2008, Editora
Gente) e Supere: a arte de lidar com as adversidades (2004, Editora Gente).