Aconteceu na semana passada a edição latino-americana do
Fórum EconômicoMundial, realizada em São Paulo. No evento, foi possível ver um
apanhado de temas que estão na pauta do mainstream global. Tecnologia foi um
dos assuntos centrais.
Em um momento em que países da região buscam novos
modelos de desenvolvimento (como o Brasil), ideias como a Quarta Revolução
Industrial trazem possibilidades.
Este colunista participou de dois painéis no primeiro
dia do evento, sobre cibersegurança e blockchain.
No de cibersegurança, ficou claro que o tema veio para
ficar quando se pensa em política pública. Em um ano em que diversos países da
região terão eleições de impacto (Brasil, Colômbia, Costa Rica, México etc.), a
ameaça de vazamentos de dados, interferências e manipulações digitais e até
mesmo ataques a infraestruturas conectadas paira no ar.
De todos os países da região, apenas oito têm avançado
de forma significativa na criação de políticas nacionais abrangentes sobre
cibersegurança (o Brasil não é um deles).
Isso faz da América Latina uma das regiões mais
vulneráveis a esse tipo de ameaça. Se a Quarta Revolução Industrial é a
resposta, cibersegurança é a pergunta. Quem paga o custo de medidas nesse
sentido? Como criar um sistema que integre setor público, privado, comunidade
científica, sociedade civil e outros atores? São questões que ainda carecem de
definição entre nós.
No painel sobre blockchain, o tema abordado foi a
capacidade dessa nova tecnologia emergente de atuar sobre problemas tipicamente
latino-americanos: corrupção, ineficiência, falta de transparência e assim por diante.
Uma das possibilidades é usar blockchain no agronegócio,
criando modalidades novas de certificação para produtos brasileiros. Isso
permitiria atacar problemas como a "carne fraca", ao controlar a
cadeia de custódia da carne, da fazenda ao supermercado. O consumidor poderia,
com seu celular, por meio de um código QR, verificar a proveniência da carne,
inclusive os pontos em que foi fiscalizada e quem fiscalizou.
Outro tema que apareceu no fórum foi a relação entre
tecnologia e democracia. A América Latina é hoje o laboratório global de
experimentação de tecnologias para participação democrática. Há iniciativas
como o Democracy Earth, surgido na Argentina, o Todos, no Chile, ou o Mudamos,
no Brasil (no qual estou envolvido, vale dizer).
Em uma de suas falas, o professor Klaus Schwab, diretor
do fórum, mencionou que as cinco organizações mais poderosas do planeta são
hoje Estados Unidos, China, Facebook, Google e o Fórum Econômico Mundial. Dessa
lista, apenas uma é uma democracia. Mais do que nunca, aprofundar formas de
inovação democrática torna-se importante.
Infelizmente não participei do segundo dia do fórum. Com
o assassinato da vereadora Marielle Franco, me senti na obrigação de retornar
ao Rio para estar presente nos atos públicos de indignação por sua morte
inaceitável.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio e representante do MIT Media Lab.
Fonte: coluna jornal FSP