Bézier, pioneiro da matemática
no design de automóveis
Nos anos 60, ele introduziu no design industrial a 'curva de Bézier'.
Em 1933, o
jovem francês Pierre Bézier (1910–1999) obteve o seu primeiro emprego na
indústria Renault, como instalador de ferramentas.
Aposentou-se da mesma
empresa 42 anos depois, como diretor de métodos mecânicos.
No meio-tempo,
revolucionou a automação no design e produção dos carros Renault e Peugeot,
deixando um extraordinário legado como pioneiro do design assistido por
computador (CAD, na sigla em inglês), que hoje permeia inúmeros setores de
atividade, da indústria às artes.
Bézier formou-se como engenheiro mecânico pela Escola Normal
Superior das Artes e Ofícios, em 1930, e como engenheiro elétrico pela Escola
Superior de Eletricidade, no ano seguinte.
Muito depois, aos 67 anos de idade,
ingressou na Universidade Pierre e Marie Curie para se doutorar em matemática.
A par do seu trabalho na indústria, foi professor no Conservatório Nacional das
Artes e Ofícios de Paris entre 1968 e 1979.
Um dos grandes problemas da indústria automóvel era como modelar
a forma de um novo carro de modo que ele seja eficaz do ponto de vista
aerodinâmico e bonito, claro.
Uma possibilidade seria considerar diversas
equações, fazer o computador desenhar as superfícies correspondentes, descartar
as que não agradassem e aprimorar as que fossem promissoras. Mas não é tão
simples.
Para começar, seria necessário descobrir equações razoáveis para
a superfície de um carro: além de dar trabalho, tais equações seriam certamente
muito complicadas.
Isto era ainda mais crítico numa época em que os
computadores eram incipientes: em 1964, depois de muito insistir, Bézier
conseguiu que a Renault adquirisse um computador em segunda mão com incríveis
oito kilobytes de memória!
Além disso, no caso em que uma equação desse um resultado
promissor, não seria óbvio de que modo modificá-la para aprimorar o resultado.
Em qualquer caso, era um contrassenso gastar tempo e dinheiro para encontrar e
melhorar equações complexas que, francamente, não serviam para mais nada.
Seria muito melhor se o computador pudesse desenhar diferentes
formas sem precisar de equações, e de um modo que elas pudessem ser facilmente
ajustadas e modificadas pelo usuário, para obter resultados ainda melhores.
Essas preocupações levaram Bézier, a partir de 1960, a
introduzir no design e produção industriais a ideia matemática que agora
chamamos curva de Bézier, que ele patenteou e popularizou (embora não tenha
sido o inventor) e que hoje estão na base de todo o design moderno.
MARCELO VIANA - diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do
Prêmio Louis D., do Institut de France.