Por
que a nossa inflação parece ser, e pode ser que seja, maior que a oficial?
Os preços podem oscilar, para cima ou para baixo, sempre
que faltar equilíbrio entre a oferta e a demanda de produtos e serviços no
mercado. A temida inflação se apresenta quando a oferta é
menor do que a demanda e os preços sobem.
A deflação ocorre no cenário contrário, e menos
frequente, quando a oferta é maior do que a demanda e os preços caem.
Os números da inflação, segundo o IPCA, índice oficial
no Brasil, continuam muito baixos, acumulam variação de 2,22% de janeiro a outubro de 2020.
Entretanto, nos surpreendemos cada vez que vamos às
compras. Os preços de alguns dos alimentos básicos tiveram altas expressivas em 12 meses: o arroz ficou 63% mais caro, o feijão,
46%, e o óleo de soja, pasmem, 96%! Causa-nos perplexidade especialmente em
razão do tamanho do agronegócio no Brasil.
Acontece que o mundo todo consome esses produtos e os
compradores internacionais pagam em dólares pelo arroz, pelo feijão e pela soja
produzidos no Brasil. Como os produtores exportam grande parte de sua produção,
os preços sobem por aqui, tanto pela redução da oferta interna quanto pela alta do dólar.
Outro exemplo, a alta de 20% do IGP-M pressiona o valor
dos aluguéis e obriga os inquilinos a buscar um acordo com os locadores dos
imóveis, tentando evitar um reajuste que não cabe no orçamento.
Por uma razão ou por outra, uma coisa é certa, existe
uma distância enorme entre a inflação oficial e nosso índice pessoal de
inflação. Por que isso acontece? Como a inflação oficial é calculada?
O IBGE pesquisa mensalmente cerca de 430 mil preços em
30 mil locais. É muita pesquisa! O problema é que o produto ou serviço que
consumimos pode não fazer parte da cesta de consumo oficial, ou o peso do
produto na nossa cesta de consumo é maior do que o peso a ele atribuído na
cesta de consumo padrão.
Os pesquisadores visitaram 57.920 domicílios no Brasil
na edição mais recente da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada em
2017-2018, para coletar informações detalhadas de rendimentos e despesas.
Assim, foi possível definir o padrão médio de consumo do brasileiro de milhares
de itens, posteriormente agrupados em 457 subitens e 9 grandes grupos.
Os grupos e o peso de cada um na composição atual do
IPCA são os seguintes: transportes, 20%, alimentação e bebidas, 19%, habitação,
16%, saúde e cuidados pessoais, 13%, despesas pessoais, 11%, educação, 6%,
comunicação, 6%, vestuário, 5%, e artigos de residência, 4%.
Os grupos e os pesos importam e são relevantes, mas
podem não representar a realidade individual de cada um de nós. O peso do
aluguel na estrutura do IPCA, por exemplo, é 3,8%. Se essa despesa ocupar 20%
do seu orçamento, sua inflação será maior, e o impacto será nulo para os que
não pagam aluguel.
Para conhecer os itens que compõem cada grupo e o peso
de cada um deles e entender por que sua inflação é maior do que a oficial,
acesse a tabela publicada pelo IBGE (bit.ly/3kjwum9).
O único jeito de calcular nossa inflação é identificar
os itens que compõem nossa cesta individual de consumo e apurar a participação
percentual de cada um deles no nosso orçamento.
Para manter sua inflação sob controle, não assine contratos
corrigidos por outro índice que não seja o IPCA e evite consumir produtos com
preços inflacionados. Consuma produtos da estação com oferta ampla e preços
reduzidos. Trocar, substituir e negociar, sempre.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified Financial
Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP