O Mercado Financeiro em Junho


Mais uma vez o mercado, durante o mês de junho, se comportou dentro do esperado. Na renda fixa a taxa de curto prazo (SELIC) ficou em 13,75%. O IRF-M, que mede a rentabilidade dos títulos públicos com juros pré-fixados, obteve uma rentabilidade de 0,32%, acumulando um ganho de 5,18% no ano. A rentabilidade dos títulos públicos indexados a inflação (NTN-B) de curto prazo (até 5 anos), medidos pelo IMA-B5, tiveram uma rentabilidade de 0,85% no mês e acumulam uma alta de 7,46% no ano. Já os de longo prazo, medidos pelo IMA-B5+, tiveram um rendimento de -0,73% no mês, acumulando uma ótima rentabilidade de 9,03%% no ano.

Como antecipamos em nosso último comentário, a rentabilidade do IMA-B5+ e do IRFM foram ruins no mês. A surpresa foi a rentabilidade do IMA-B5, que apresentou boa rentabilidade, entretanto abaixo da rentabilidade da taxa SELIC no mês. Ao final deste comentário iremos explicar porque a rentabilidade dos investimentos em renda fixa pré-fixados e indexados à inflação variam tanto de um mês para o outro.

 

O IBOVESPA apresentou modesta alta de 0,61% no mês. No ano a alta foi de 6,15%. O dólar (pelo cambio oficial – PTAX) teve queda no mês de 2,40% acumulando uma valorização de 16,81% no ano.

O quadro político nacional se deteriorou mais ainda nesse mês. O ex-presidente Lula fez pesadas declarações contra a presidente e os membros do seu partido. Na semana seguinte ele tentou amenizar o que disse e buscou uma reaproximação com a presidente. O estrago já estava feito.

As investigações da “Lava-Jato” estão se aproximando do ex-presidente e de importantes membros do atual governo. A popularidade da presidente está baixíssima. Ser governo nessa situação não é fácil. Criticar é fácil e pelo visto essa é a estratégia do ex-presidente. O que mais espanta é ver a oposição calada e o governo atirando no próprio pé.

 

Não será grande surpresa se o PT passar por uma “reformulação” antes mesmo das próximas eleições.

Emprego, atividade econômica e produção industrial continuam em queda. Entretanto, os dados preliminares de junho apontam para uma inflação alta. Esperamos a manutenção de inflação alta para julho também. A energia elétrica em São Paulo sobe novamente esse mês. Ainda, segundo declarações do presidente da Petrobrás, o preço da nossa gasolina deverá, de agora em diante, manter relação com o preço internacional. Como a gasolina aqui no Brasil está mais barata que o preço internacional podemos ter aumento em breve.

Para complicar mais as coisas existe um “fantasma” rondando nosso país: A possibilidade de um rebaixamento na nossa nota de credito. A agencia Moody’s está em processo de revisão da nota brasileira e poderá corta-la em um ponto.

 

Hoje a nota brasileira está dois pontos acima do nível especulativo. Uma queda na nota coloca o país muito próximo de ser classificado como de alto risco. Muitos investidores institucionais internacionais não podem investir em países com notas do grau especulativo, assim a perda de um ponto pode iniciar um movimento de venda de títulos por parte desses investidores, desestabilizando nosso mercado. É importante ficarmos atentos a esse fato. Abaixo explicamos melhor o que esse rebaixamento significa.

Considerando o desempenho dos investimentos no mês de junho, o mercado continua apostando no ajuste econômico do ministro Levy, apesar de números sobre a arrecadação do governo e gastos públicos serem ruins. É claro para todos que as metas estabelecidas não serão cumpridas, mas alguma economia será feita, o que está sendo avaliado positivamente pelos investidores.

Na Europa o centro das atenções é a Grécia, que não pagou o FMI no dia 30 de junho e entrou em “calote”. O seu presidente chamou a população para votar, nesse domingo, se o pais deve abandonar ou não o Euro. As pesquisas indicam um desejo de manutenção. Acreditamos que a saída da Grécia do bloco não beneficia ninguém, assim vemos essa situação como um jogo para ver quem consegue intimidar mais o outro.

 

A Grécia quer mais vantagens para pagar sua dívida e a Comunidade quer mais aperto nas contas gregas, alguma semelhança com o Brasil não é mera coincidência. Inclusive já vimos esse filme no Brasil. A reação do mercado a situação tem sido “amena” acompanhando sem grandes solavancos. Uma efetiva saída do país da Comunidade Econômica Europeia pode trazer instabilidade. Mas como dissemos essa possibilidade parece ainda remota.

A China viu seu mercado acionário cair mais de 10% no mês. Mas segundo especialistas as ações chinesas ainda estão caras e devemos ver mais quedas. O governo diminuiu as taxas de juros na expectativa de aquecer a economia, mas os sinais continuam sendo de desaceleração. Assim, devemos continuar convivendo com baixos preços para as commodities, o que sem dúvida não é bom para o Brasil.

 

Os Estados Unidos estão dando sinais de recuperação. O inverno acabou e a atividade econômica parece estar aumentando. Os dados recentes para criação de empregos e venda de casas novas vieram acima do esperado, indicando recuperação, o que é, sem dúvida, uma ótima notícia. Esses dados positivos esquentaram o debate de quando as taxas de juros daquele país devem iniciar sua subida. Apostas indicam que setembro é o início. Mas a alta deve ser lenta, gradual e sem solavancos. O que é bom para nós.

Continuamos com nossa posição de privilegiar os investimentos em renda fixa de curto prazo, indexados à taxa SELIC. Os investimentos em títulos pré-fixados e os indexados à inflação não devem apresentar uma rentabilidade muito boa. Considerando o risco desses investimentos, continuamos com a opinião que devemos, gradativamente, reduzir a exposição a eles. Lembre-se que o risco de rentabilidades ruins em títulos pré-fixados e indexados à inflação aumenta com um possível rebaixamento da nota de credito do Brasil. Se você tem dúvidas sobre como a rentabilidade desses investimentos se comporta, veja baixo nossa explicação.

 

O resultado das empresas brasileiras continua baixo e não vemos no curto ou médio prazos mudanças nesse cenário. Com o IBOVESPA negociando em torno de 53 mil pontos não acreditamos que as ações estejam baratas. Com relação à taxa de cambio continuamos com a posição do mês passado, ou seja, não achamos interessante apostar contra o dólar.

Quem vem nos acompanhando desde o inicio do ano sabe que nossa posição tem sido de cautela com preferencia para a renda fixa. A taxa de juros pós-fixada (SELIC) está proporcionando um ótimo retorno com baixo risco, o que dificulta investimento em outros ativos.

 

Entendendo o Mercado

 

1. Agências de Classificação de Risco (Agências de Rating)

Existem empresas especializadas em avaliar a capacidade de um país, ou empresa, em pagar suas dívidas. Elas são chamadas de Agencia de Rating. Com base nos resultados do faturamento, investimentos e gastos de uma empresa (ou país) essas agencias atribuem uma nota ao devedor. O sistema de notas é diferente para cada agencia e existem inúmeras notas diferentes. A melhor nota (o triplo “A” ou “AAA”) indica que o tomador do empréstimo tem ótimas condições para pagar suas dívidas e que o risco de emprestar dinheiro para ele é mínimo.

Quando há incerteza quanto a capacidade de pagamento a nota vai caindo.

Periodicamente as Agências revisam suas notas assim, elas também publicam um viés que pode ser positivo, neutro ou negativo. Uma empresa com viés positivo tem mais chances de ver sua nota subindo, na próxima reavaliação.

 

Essas agencias agrupam os devedores em dois grandes grupos: Grau de Investimento e Grau Especulativo. As empresas e países classificados como Grau Especulativo apresentam maior risco, pagam taxa de juros maiores e sofrem mais quando há incertezas na mente dos investidores.

As agências de classificação estabelecem uma “nota de corte” que separa o bom do mau pagador. Segundo a Moody’s o Brasil se encontra no grupo de Grau de Investimento. Mas estamos apenas dois pontos acima da nota de corte. Uma reavaliação com rebaixamento da nossa nota nos coloca mais próximos aos mau pagadores. O que sem dúvida é ruim. Pior ainda se nosso viés for negativo.

 

Grandes fundos de pensão internacionais têm, normalmente, uma proibição interna de investir em países classificados como Grau Especulativo. Assim se o Brasil for visto como um país que pode perder o Grau de Investimento esses grandes investidores podem iniciar a liquidação de seus investimentos aqui. Como eles investem tanto em ações quanto em títulos de renda fixa (normalmente de longo prazo), qualquer pressão de venda fará com que o investimento se desvalorize, impactando em sua rentabilidade. Com a saída deles a rentabilidade da bolsa, dos títulos pré-fixados e dos indexados à inflação sofrerá.

A Moody’s, uma das principais agências de rating internacional, está no processo de rever a nota do Brasil, um rebaixamento de nossa nota com um viés negativo sem dúvida impactará negativamente tanto os investimentos na renda fixa de longo prazo (aqueles indexados à inflação e os pré-fixados) e na renda variável. Assim é importante ficarmos atentos aos riscos dessa reclassificação.

 

2. Como se comporta a rentabilidade de um investimento em renda fixa com juro pré-fixado ou indexado a inflação.

Títulos de renda fixa pré-fixados possuem um valor predefinido para seu resgate na data de seu vencimento. Esse valor é normalmente R$1.000,00. Por exemplo se você deseja fazer um investimento pré-fixado e quer ganhar R$100,00 de juros você paga hoje por esse título R$900. No vencimento você recebe de volta R$1.000,00, dos quais R$900 representa seu investimento e R$100,00 o juro.

Note que depois de feito o investimento se a taxa de juro subir ou cair você não tem qualquer variação no seu investimento pois receberá R$100 de juro.

O juro está predefinido, por isso esse investimento se chama de pré-fixado.

 

Quando é bom fazer esse tipo de investimento? Quando você acha que a taxa SELIC acumulada no período (de hoje até o vencimento) for menor que o juro que você receberá. Não sabemos, antecipadamente, quanto a taxa SELIC será no futuro. Vamos supor que ela seja de 10%a.a.. Se você aplicar os mesmos R$900 (o valor de compra do título pré-fixado) em um investimento que renda a taxa SELIC, seu ganho (o juro) será de R$90 (10% de R$900), menor que o juro que você ganhará no investimento pré-fixado. Entretanto, se a SELIC subir, seu ganho poderá ser menor.

Só por curiosidade vejamos: No dia 01/06 a taxa de um investimento pré-fixado com vencimento em 01/01/2016 era de 14,2755 (fonte ANBIMA).

A taxa SELIC atual é de 13,75%a.a.. Se você acha que o COPOM não alterará mais a taxa Selic até o ano que vem, melhor fazer o investimento pré-fixado, mas se você acha que a taxa SELIC ainda sobe muito, melhor fazer o investimento pós-fixado.

Os títulos pré-fixados podem ser vendidos a qualquer momento. Vamos supor que você comprou, no início do ano, títulos pré-fixados pelo Tesouro Direto, com vencimento em 01/01/2016. Digamos ainda que você teve uma emergência e necessita de dinheiro agora. O que fazer? Seu investimento só vence em 2016. Você pode vender seus títulos hoje e pegar seu dinheiro. No vencimento você sabe que ele vale R$1.000,00, mas hoje o seu valor depende de quanto o mercado paga por ele. Se os investidores esperam uma forte alta na taxa de juros eles vão querer um rendimento maior. O valor desse título cai. Se eles esperam uma queda na taxa de juros o valor desse título sobe.

 

Assim, o valor do seu investimento, antes da data de vencimento, varia a todo momento conforme a expectativa de taxa de juros dos investidores.

Outro fator importante é a demanda e oferta por esses títulos. Vamos supor que um investidor estrangeiro, olhando para as altas taxas de juros no Brasil resolva comprar uma grande quantidade desses títulos. Ao iniciar sua compra o preço dos títulos pré-fixados sobe.

Da mesma forma, se o investidor estiver com “medo” de problemas no Brasil e iniciar a venda de uma grande quantidade, seu preço cairá.

Portanto, uma queda na nota de risco do Brasil pode provocar uma venda de títulos por parte dos investidores estrangeiros, impactando diretamente a rentabilidade dos investimentos em renda fixa pré-fixados. Os investimentos pós-fixados nada sofrem.

 

O mesmo raciocínio feito acima para os títulos pré-fixados vale para os títulos indexados à inflação. Finalmente, quanto maior o prazo para vencimento, mais sofre o título, ou seja, quando maior o prazo de vencimento maior será a oscilação no seu preço de mercado hoje.

Existe uma regra que obriga os fundos de renda fixa pré-fixados a contabilizarem os ativos em sua carteira a valor de mercado, assim a rentabilidade desses fundos varia sempre que há uma alta ou queda no valor dos títulos. Caso haja uma grande venda desses títulos o fundo perde rentabilidade, caso haja uma grande compra, o fundo tem ótima rentabilidade.

Nesse momento de mercado entender esses conceitos pode ajudá-lo a ganhar mais, ou evitar riscos “escondidos”.

 

Lauro Araujo – administrador de empresas, diretor da LAS – consultoria financeira e atuarial para o segmentos dos fundos de pensão

Fonte: blog Investidor Institucional
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