Se tem
algo que “dói no meu ouvido” é quando ouço alguém falando coisas negativas
sobre o Tesouro Direto, como “o Tesouro Direto é muito volátil”, “o Tesouro
Direto é muito arriscado”, “o Tesouro Direto é mimimimimi….”.
Não existe (repito: NÃO EXISTE) investimento totalmente sem
risco e os títulos públicos federais (negociados por meio do Tesouro Direto)
não fogem à regra, apesar de seu risco ser considerado irrisório.
O problema desses comentários negativos sobre o Tesouro Direto
(muitas vezes proferidos por pessoas com interesses conflitantes, como gerentes
de banco) é que eles jogam todos os títulos públicos “no mesmo saco”, e a
realidade é infinitamente distante disso.
O Tesouro Direto é um “investimento” tanto quanto a bolsa de
valores é, também, um “investimento”. Qualquer investidor mais experiente sabe
que esse tipo de definição não faz sentido, pois na bolsa existem ações de
diversos segmentos, derivativos, fundos imobiliários, debêntures… Dizer que
alguém “investe na bolsa” é algo tão vago e inespecífico quanto dizer “eu
viajei pra fora de casa”…
A mesma lógica se aplica ao Tesouro Direto. Ele pode não ter a mesma
diversidade da bolsa, mas é composto por três tipos básicos de títulos com
características totalmente diferentes, e que se comportam de forma igualmente
diferente em cada cenário.
Títulos pós-fixados indexados à Selic (LFT ou “Tesouro Selic”)
são o “feijão-com-arroz” do Tesouro Direto. Dificilmente se erra com eles.
Quando os juros da economia sobem, eles acompanham. Quando caem, também
acompanham e acabam rendendo menos que o esperado, mas, praticamente, jamais
apresentam rentabilidade negativa (ao menos em termos nominais) e não sofrem
com a volatilidade do mercado antes do vencimento. São a aposta segura para
quem não quer grandes emoções.
Títulos prefixados (LTN ou “Tesouro Prefixado”), nas versões com
ou sem juros semestrais (cupom), são indicados para cenários em que a economia
está mais “rósea”, com inflação controlada e juros em tendência de queda. Eles
costumam reagir (às vezes de forma exagerada) a variações da taxa de juros
antes do vencimento – o que pode ser bom ou ruim, dependendo de “para que lado”
é essa variação.
Já aqueles vinculados à inflação (NTN-B ou “Tesouro IPCA”),
também nas versões com e sem cupom, oferecem uma razoável proteção contra a
inflação e costumam ter prazos longos. São indicados para aqueles que querem
proteger o patrimônio, mas não têm tanta necessidade de liquidez. São
interessantes para cenários conturbados, mas, antes do vencimento, costumam se
comportar como títulos prefixados, apresentando grande sensibilidade às
variações da taxa de juros.
Ou seja, para qualquer cenário econômico, existe um (ou mais de
um) título público adequado. Talvez o único cenário em que todos os títulos
públicos saem perdendo é quando a taxa de juros da economia cai de forma
significativa (algo que está beeeeem longe de nossa realidade, ao menos no
curto prazo). Em situações assim, investidores que querem ganhar alguma coisa
precisam, necessariamente, esquecer a renda fixa e apelar para a renda variável
(como acontece nos EUA).
Em resumo, da próxima vez que alguém te falar do Tesouro Direto,
com viés negativo, fazendo generalizações (e especialmente se esse “alguém” for
profissional de finanças e com algum interesse em produtos concorrentes…),
“esfregue na cara” dessa pessoa que Tesouro Direto não é uma coisa só… É
possível investir em coisas diferentes, com estratégias diferentes e cenários
diferentes, tudo isso dentro do Tesouro Direto.
André
Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro.