A falta de
confiança é o pior veneno para os relacionamentos
O
relatório do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) —"Confiança: a
chave para coesão social e crescimento na América Latina e Caribe"—, de
2022, revelou a profunda crise da confiança nos relacionamentos.
Entre os países pesquisados, os que apresentaram o
maior índice de confiança eram os mais ricos e desenvolvidos, com menor índice
de corrupção e melhor qualidade de vida.
Os países da OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) tiveram uma média de 41% de confiança.
A média global era de 25%. A América Latina teve uma média bem menor (12,06%):
o Uruguai estava em primeiro lugar (21,08%), seguido do México (18,37%), Chile
(17,07%), Argentina (16,15%), Peru (10,8%), Nicarágua (9,12%). O Brasil ficou
em último lugar no índice de confiança (4.69%), perdendo até mesmo da Venezuela
(5,21%).
Como a crise da confiança pode impactar os
relacionamentos amorosos? Será que a falta de confiança pode ajudar a
compreender o crescimento do "Divórcio Grisalho"?
No
Brasil, em 2021, 25,9% das pessoas que se divorciaram tinham mais de 50 anos,
de acordo com o IBGE. De 1990 a 2010, a taxa de divórcio entre pessoas com mais
de 50 anos nos Estados Unidos duplicou.
Atualmente, mais de um terço das
pessoas que estão se divorciando nos Estados Unidos têm mais de 50 anos.
Nos
meus livros "A Outra", "Infiel" e "Por que homens e
mulheres traem?" mostrei que, dentre os meus pesquisados, os principais
motivos para o divórcio foram: traição, ciúme, mentiras e falta de confiança no
parceiro.
Quando
perguntei: "Quais os principais problemas que você vive ou viveu em seus
relacionamentos amorosos?", as mulheres responderam: traição, ciúme,
mentiras, falta de confiança e ainda falta de escuta, falta de diálogo, falta
de respeito, de reconhecimento, de reciprocidade e muitas outras faltas.
Algumas disseram que falta tudo!
Quero
mencionar apenas o exemplo de Leila, uma psicóloga de 55 anos, apesar de poder
citar inúmeras mulheres que me disseram a mesma coisa: "Meu marido mente
descaradamente!".
"Como
posso confiar em um homem que desaparece, desliga o celular e nunca diz onde
estava?
Como posso confiar em um homem que me trata como lixo, que me faz
sentir uma mendiga que implora por migalhas de carinho e de atenção?
Como posso
confiar em um homem que mente descaradamente, e, quando reclamo, me xinga de
ciumenta, histérica, controladora, neurótica e louca?
Como posso confiar em um
homem que não transa mais comigo nem me beija, mas fica trocando mensagens no
WhatsApp e enviando gracinhas e corações para mulheres nas redes sociais?
Como
posso confiar em um homem que, quando reclamo das suas mentiras descaradas, usa
como justificativa: ‘Se não conto a verdade ou escondo algumas coisas, a culpa
é sua!’".
Leila gostaria de testar o marido no polígrafo do
programa "Lady Night", da Tatá Werneck. Ela disse que Héctor Bolígrafo
iria facilmente identificar as mentiras do marido: "Ele mente
descaradamente!".
Finalmente, ela decidiu se divorciar: "Quero
minha paz de espírito de volta, decidi fazer parte das estatísticas do divórcio
grisalho.
Quero poder dizer em alto e bom som: ‘Não preciso mais de um homem em
quem não posso confiar, não preciso mais mendigar respeito, sinceridade e
honestidade.
Não tenho mais um marido mentiroso, e sou muito mais feliz’".
MIRIAN GOLDENBERG - antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"