Televisão noticia que, pela primeira vez, o índice Dow Jones
da Bolsa de NY superou os 26 mil pontos
|
O biênio de 2018-2019, salvo algum desastre geopolítico,
deve ser de vigoroso crescimento global. A exuberância das bolsa de valores no mundo todo neste início
de ano reflete confiança que não se viu nos últimos dez anos.
Apesar de Trump, Brexit, eventual pouso forçado da
economia chinesa e outras assombrações, todos, emergentes ou mais maduros,
estão crescendo. Martin Wolf, no "Financial Times", argumenta com razão de
que este é um ambiente gerador de grandes oportunidades para mercados
emergentes.
Mohamed El-Erian, a quem se credita a expressão
"novo normal" para definir conceitualmente o período sustentado de
baixo crescimento que se seguiu à Crise de 2008, enxerga um horizonte de "bela normalização" para a economia global.
Pode-se portanto entender que esta é uma atmosfera ideal
para a "ascensão das nações". Isto é verdade. Ascender, no entanto, é
mais do que simplesmente subir junto com ou outros quando a maré é alta.
Ascender é ganhar posições relativas. Claro, deve-se
aproveitar a tração oferecida pela expansão das principais economias do mundo.
E, nesse aspecto, os protagonistas —EUA, China, Europa e Japão— vão crescer
nestes próximos 24 meses.
O que fazer então para que o crescimento de economias
como a do Brasil não seja apenas inercial, o mero movimento de uma "Maria
vai com as outras"?
Aqui, cabe perguntar: quais os fatores que determinam a
ascensão das nações, tornando-as mais "poderosas, prósperas e
influentes"? Para tentar responder a esta questão, encontram-se bons
exemplos no exame comparativo das políticas de desenvolvimento de nações
emergentes em passado recente.
Ao final da década de 70, Brasil e China apresentavam
PIBs nominais em patamares equivalentes, de cerca de US$ 200 bilhões —sendo o
PIB per capita brasileiro dez vezes superior ao chinês.
À época, considerando-se as altas taxas de crescimento
apresentadas pelo Brasil no início da década, o país figurava como candidato
mais provável para ascender à condição de potência global no século seguinte.
Entretanto, quarenta anos mais tarde, é a China que ocupa o patamar de segunda maior
economia global, com potencial de ultrapassar o PIB nominal dos EUA nos
próximos anos.
É no contraste entre as trajetórias de diferentes nações
que "mudaram de andar" no sistema internacional que conseguimos
identificar os principais fatores responsáveis pela emergência de potências.
Uma "Teoria Geral da Ascensão das Nações" apresentaria duas variáveis
centrais: instituições e estratégia.
Ecoando
as conclusões de Daron Acemoglu e James Robinson na obra "Por que as
Nações Fracassam?", é certo que podemos indicar que países malogram quando
não conseguem erguer e arregimentar instituições que favoreçam seu
desenvolvimento econômico". Contudo, apenas instituições eficazes não são
suficientes para explicar os processos de ascensão em sua totalidade.
O
"milagre econômico" chinês, por exemplo, ocorreu mesmo na ausência de
instituições tidas como fundamentais no Ocidente, como agências reguladoras,
nítida divisão dos poderes e os pesos e contrapesos ("checks and
balances") característicos das democracias ocidentais —e ainda com forte
planejamento central.
É
importante ressaltar que um dos poucos elementos em comum entre nações com
trajetórias ascendentes desde o fim da Segunda Guerra Mundial —como Alemanha,
Japão, Coreia do Sul, Espanha, Chile e China— é a adoção de uma estratégia
eficiente para aproveitar as oportunidades de uma determinada configuração da
globalização.
Não
obstante o marco institucional ou especificidade civilizacional de um ou outro
país, todos os exemplos acima contaram com uma eficiente estratégia de
acumulação de recursos por meio do comércio exterior.
Por
um lado, este cenário de bonança econômica de 2018-2019 trará importantes
janelas de oportunidades para o Brasil, e será marcado, dentre outras
caraterísticas, por crescente demanda por alimentos e recursos minerais. Já é
possível identificar uma tendência em curso —o aumento no preço de commodities
agrícolas e minerais, impactando positivamente exportações brasileiras.
Por
outro, os riscos onipresentes desta tendência são os de perpetuar a posição
brasileira de exportador de bens primários, contrariando as possibilidades de
uma "reindustrialização qualitativa" ocorrer no país no curto prazo.
Desta
perspectiva, a depender das características de determinada sociedade em um
momento histórico específico, instituições ou estratégias podem desempenhar
papel mais ou mesmo preponderante na dinâmica de ascensão das nações.
Dificilmente, contudo, um dos dois fatores isoladamente garantirá seu sucesso.
Em
última instância, pode-se concluir que nações ascendem quando conseguem se
adaptar com êxito aos contornos cambiantes da globalização para fazer com que
sua economia e sociedade se tornem mais intensivas em valor, e portanto mais
complexas.
Marcos
Troyjo - Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da
Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações
internacionais e políticas públicas.
Fonte:
coluna jornal FSP