Reitor da escola de negócios da Universidade Stanford (EUA), centro de destaque na formação de empreendedores e executivos, o economista Jonathan Levin diz que as transformações tecnológicas atuais criam desafios éticos para os negócios e a sociedade.
Em entrevista ao blog durante sua primeira visita ao Brasil, ele apresentou suas impressões sobre o cenário de inovação no país.
Passaram pela universidade, localizada no Vale do Silício, na califórnia, fundadores de algumas das principais empresas de tecnologia do mundo, entre elas Google, HP e Cisco.
Plano de Negócios – Qual sua percepção sobre o mercado de startups no Brasil?
Jonathan Levin – É impressionante como em um prazo curto o ecossistema decolou e está florescendo em termos de capital, ideias e inovação. Minha impressão é que, em 10 ou 20 anos, o Brasil será um dos países mais interessantes para se iniciar uma empresa.
O que impulsiona esse avanço?
Uma população grande somada a uma cultura de resolução de problemas. E, em todos os lugares onde há um ecossistema de empreendedorismo, florescendo você precisa de capital para financiar empresas e talentos para construí-las. O Brasil possui as duas coisas e espero que esteja destinado a ter anos de crescimento econômico.
Qual sua percepção sobre o potencial da educação online?
Ela foi bem-sucedida em criar novas oportunidades de educação. Mais possibilidades para a pessoa ter um aprendizado continuado de um modo que não existia antes. Serve bem para atualizar habilidades e adquirir novas.
É preciso melhorar e aumentar a interação social e o engajamento que existe nela, a possibilidade de falar com colegas, interagir com professores. A tecnologia irá permitir um ambiente de aprendizado que vai além de ler na tela e clicar.
Também estamos usando o ensino online junto com o presencial. Você pode assistir parte da aula online e usar o tempo em sala para trabalhar em projetos em grupos de uma forma mais interativa. sempre haverá muito valor no ensino presencial. Algo em estar junto em determinado ambiente e formar relações sempre será importante. Uma das oportunidades da educação online é entender como é possível unir as coisas para se ter o melhor dos dois mundos.
Como as novas tecnologias vão mudar a educação e o conteúdo em sala de aula?
Penso que a resposta que as pessoas tendem a dar é que será preciso aprender mais sobre uso de dados e tecnologia. Isso é verdade. Nossos cursos de MBA possuem no primeiro ano aulas de ciência de dados.
Porém o que é ainda mais importante. é trabalhar As habilidades que serão mais requisitadas no futuro, que continuarão a ser as habilidades humanas, a capacidade de liderar, trabalhar em equipe. São habilidades muito mais difíceis de se automatizar, ao menos no futuro previsível. Estar preparado para ensinar como liderar um time, comunicar com pessoas, interagir, aí estará o valor da educação para os negócios.
Estamos em um bom caminho nas escolhas que azemos em relação ao uso da tecnologia?
Vivemos em um tempo com oportunidades incríveis. A informação está acessível em todo o mundo, para todos. Isso é transformador para bilhões de pessoas.
Mas vejo grandes desafios que temos agora. A tecnologia está criando questões que ainda não aprendemos como pensar a respeito.
Uma delas é a privacidade. Quanto ela é importante para a sociedade em um mundo em que seu telefone pode te monitorar a todo momento e armazenar toda a conversa que você tiver? estamos confortáveis com isso?
E temos de pensar também no que acontece quando deixamos que os algoritmos tomem decisões no lugar das pessoas. Como vamos programá-los para decidir que notícias as pessoas veem, quem será contratado por uma empresa no processo seletivo?
O segundo grupo de questões tem a ver com o tamanho e a escala das empresas de tecnologia.
Uma das coisas boas de estar em Stanford é que esse é o lugar certo para discutir essas coisas,. Criamos o Instituto Stanford para pensar a respeito de algorítmos, dados e o futuro da inteligência artificial. Nossa perspectiva é discutir o potencial da tecnologia e como isso vai mudar a vida das pessoas. }É uma iniciativa que junta líderes de negócios, mas também cientistas da computação, advogados, filósofos, médicos, especialistas em educação.
Então a tecnologia deve ser discutida junto da filosofia em sala de aula?
Ética é uma grande parte do nosso programa. Quando você cria algorítmos, eles incorporam muitas questões éticas. O carro autônomo vai ter de tomar decisões éticas. Teremos de discutir quanto risco se está disposto a tomar no trânsito, por exemplo. São problemas que você não pode deixar só para os engenheiros.
Fonte jornal FSP