Medo e luto aumentam procura por startups de saúde
mental.
Pandemia
também reduziu resistência a atendimento virtual.
A pandemia de Covid-19 teve como
consequência uma onda de crescimento para as startups de atendimento psicológico online.
O setor, que existe há mais de cinco anos mas ainda
não havia decolado, atraiu investimentos e avançou no desenvolvimento de novos
serviços para pacientes e empresas.
Segundo os empresários, a angústia gerada por
fatores como o distanciamento social provocado pela Covid-19, o medo e o luto
incentivaram mais buscas pelo serviço, ao mesmo tempo em que as restrições a
consultas presenciais diminuiu a resistência que pacientes e psicólogos tinham
em relação ao atendimento virtual.
Tatiana Pimenta, da startup Vittude, diz que seu
negócio acelerou cinco anos em um. A companhia foi de sete clientes
corporativos, que subsidiam o atendimento de seus funcionários, para mais de
cem.
Ela afirma que a pandemia fez com que a piora na
saúde mental dos funcionários passasse a impactar os custos e a produtividade
das empresas, o que as fez olhar para o setor.
"Saúde mental deixou de ser
algo que as pessoas não queriam discutir e virou estratégico e crítico."
O perfil também mudou. Antes eram startups que
procuravam o serviço, agora ele já é buscado por multinacionais, afirma
Pimenta.
Outra diferença é que agora a startup investe no desenvolvimento
de treinamentos e palestras para tratar de saúde mental com executivos e
diagnósticos de saúde mental para empresas.
Pimenta diz que a Vittude vem sendo procurada por investidores e
deverá anunciar uma injeção de recursos no terceiro trimestre deste ano.
Acompanhando o crescimento do setor, o ZenKlub levantou R$ 61
milhões em investimentos durante a pandemia, em rodadas de captação anunciadas
em maio do ano passado e fevereiro deste ano.
Rui Brandão, sócio da startup, diz que a nova captação veio após
um período tão curto porque a startup atingiu seus objetivos antes do
planejado.
Ele afirma que, antes da pandemia, a empresa tinha 15 clientes
corporativos. Agora são 265.
Com isso, o total de atendimentos da plataforma cresceu 12 vezes
e chegou a 60 mil por mês, diz Brandão.
A estrutura da startup também mudou
para se adequar ao novo cenário. O ZenKlub foi de 15 para 100 funcionários.
Brandão atribui o crescimento do setor, de um lado, à quebra do
preconceito em relação à terapia online provocado pelo distanciamento social e,
de outro, ao sofrimento causado pela pandemia.
"Quem não sente nenhum
impacto emocional com tudo o que estamos vivendo não é um ser social",
afirma.
Além de oferecer consultas online, o ZenKlub investe na produção
de conteúdo próprio sobre saúde mental, incluindo vídeos e podcasts sobre temas
como meditação, respiração, sono, produtividade e liderança.
No catálogo da
startup há nomes como Monja Coen e Mario Sergio Cortella. Parte do conteúdo é
livre e outra depende de assinatura para acesso.
Além dos investimentos, o setor também viu a Psicologia Viva, de
terapia online, se unir à Conexa, de telemedicina, no final de março.
Fabiano Carrijo, presidente da Psicologia Viva, diz que a
companhia cresceu de 6.000 consultas por mês em janeiro de 2020 para 90 mil em
março deste ano. Com isso, saltou de 25 para 150 funcionários.
A startup testa um aplicativo de saúde mental a ser oferecido
para grandes empresas. Entre temas a serem tratados no serviço estão saúde
financeira, meditação e treinamento da mente, diz.
A companhia também tem como meta oferecer a empresas clientes
indicadores sobre saúde mental, com informações anônimas a respeito dos motivos
de procura por consultas e impacto delas no volume de faltas e na produtividade
das equipes.
Também com negócios acelerados na pandemia, a startup Eureka,
que une rede de franquias de atendimento terapêutico, conteúdo de educação
online para psicólogos e clube de livros sobre o tema, saltou de 4 franqueados
no início da pandemia para 42 em 2021, segundo o sócio Júlio Frota Lisbôa.
Felipe Oliveira – jornalista, colunista jornal FSP