Supremo
pisou na bola ao vetar o ensino domiciliar
Uma, das piores coisas que pais podem fazer a seus
filhos, é privá-los da escola. Ela serve não só para ensinar aos jovens os
conteúdos das disciplinas básicas, o que daria para fazer em casa com um bom
programa de estudos, mas também os prepara para conviver com seus pares. Ainda
assim, penso que o STF pisou na bola ao vetar o ensinodomiciliar.
A missão de uma corte constitucional numa questão como
essa não é determinar o que é melhor para as crianças —a tarefa de identificar
o que de fato funciona e estimular as pessoas a fazê-lo cabe ao Executivo—, mas
estabelecer os limites nos quais o Estado pode interferir na vida dos cidadãos.
Não estou, evidentemente, sugerindo que pais possam fazer o que bem entenderem
com seus rebentos. O Estado pode e deve requerer dos genitores que eduquem seus
filhos e zelem por sua saúde. Meu ponto é que o poder público pode cobrar
resultados, mas não determinar o caminho quando existam vias alternativas.
Aluna na escola Padre Diogo Feijó,
em Rio Branco
Eu me explico. Se a criança não aprende a ler nem
adquire os conhecimentos básicos para viver em sociedade, os pais podem ser
processados por abandono intelectual. Se o jovem aparece inexplicavelmente
machucado ou desnutrido, devemos investigar e eventualmente responsabilizar
quem tem a sua guarda. A garotada decerto tem direito à educação e à saúde. O
que não dá para fazer, pelo menos não numa sociedade aberta, é obrigar todos a
seguirem a mesma rota.
Afinal, se o STF admite que é legítimo que o poder
público obrigue uma família a matricular o filho na escola, por que não exigir
também que o faça frequentar uma igreja (a Constituição sugere que a religião
integra a formação básica dos cidadãos) ou praticar esportes e comer quatro
porções de fruta por dia?
E o fato de o Legislativo nunca ter regulamentado o ensino domiciliar não é motivo para não reconhecê-lo como um direito
autoaplicável.
Isso dito, não deixe de mandar o seu filho à escola.
Hélio Schwartsman - jornalista, foi editor de Opinião. É autor de
"Pensando Bem
Fonte: coluna jornal FSP