Todo fim de ano, bilhões de
pessoas em todo o planeta decidem mudar. Infindáveis resoluções são tomadas.
Faremos um regime rígido, frequentaremos a academia e ligaremos mais para
nossos pais. A estas alturas, a maior parte destas resoluções já caiu por terra.
E as do governo brasileiro?
Assim que reeleita, a Presidenta mudou o discurso, reconheceu que nossa obesidade fiscal já não nos deixa caminhar e
prometeu combatê-la.
O governo moderaria sua
alimentação e se exercitaria mais. Para não deixar dúvidas quanto à seriedade
do compromisso, Joaquim “Mãos de Tesoura” Levy foi chamado para personal
trainer e
nutricionista.
Levy anunciou a nova meta de
peso: um superávit das contas públicas desconsiderando gastos com juros da
dívida de 1,2% do PIB e prometeu o fim da contabilidade criativa. Com o
ministro Mantega, as calorias de chocolate, churrasco e cerveja não contavam. Para
chegar lá, o governo teria de emagrecer uns R$ 70 bilhões. No ano passado,
mesmo com arrecadação recorde, nosso setor público gastou mais do que arrecadou
desconsiderando os gastos com juros pela primeira vez em 17 anos.
Para afinar a cintura
governamental e permitir que o Brasil voltasse a caminhar em 2015 e correr nos
anos seguintes, Levy prometeu pôr a tesoura para funcionar. À elevada carga de impostos que pagamos não correspondem serviços
públicos em quantidade e qualidade condizentes, sinal evidente de que gordura
para se cortar nos gastos públicos há de sobra.
Para fazer isso, o ministro
Nelson Barbosa anunciou a revisão da fórmula de reajuste do salário mínimo. Aí,
entrou em ação o inimigo número um das resoluções de Ano Novo: a própria pessoa
que as tomou, no caso a Presidenta Dilma.
Uma coisa é prometer emagrecer, outra é manter a boca fechada para que isso
aconteça.
Ao desautorizar seu ministro,
a Presidenta pareceu não estar disposta a fazer os sacrifícios que o objetivo
exige. Não há nada de errado em não concordar com esta medida em si. Dado o
fim, é prerrogativa da Presidenta escolher os meios para alcançá-lo. Alguém que
decide se exercitar mais pode preferir correr ou nadar.
O problema é que, desde
então, as medidas de ajuste têm sido concentradas em aumentos de impostos. Dos
R$46 bilhões anunciados, só R$18 bilhões viriam de cortes de gastos e o Congresso ainda pode reduzir este
número. Os outros R$28 bilhões sairão do nosso bolso, não do bolso do governo.
O aumento do imposto de renda reduzirá o quanto teremos para gastar e ainda pagaremos mais pela
gasolina, veículos, produtos importados, cosméticos e crédito. Em resposta a
sua obesidade, o governo nos pôs de regime. Ao invés de apertar o próprio cinto
e cortar gastos, ele aperta o nosso e aumenta impostos.
Além das medidas já
anunciadas, cerca de R$25 bilhões em ajustes adicionais serão necessários. Para
o bem da economia brasileira, espero que eles venham de cortes de gastos
públicos.
Mau desempenho e desequilíbrios macroeconômicos pioraram
as expectativas, causando a estagnação da economia brasileira em 2014. As
expectativas de crescimento para este ano são parecidas. No entanto, ao
contrário do que aconteceu nos últimos quatro anos, podemos terminar o ano melhor do que começamos. Medidas corretas aumentariam o otimismo de consumidores e empresários,
levando-os a consumir e investir mais.
O país voltaria a crescer e o crescimento poderia acelerar-se nos anos
seguintes. Para isso, Presidenta, não basta contratar o personal
trainer. É preciso fazer o que ele propõe.