A tristeza do luto é uma reação
normal e não há receita para superá-la. Mas geralmente, seis meses depois de
uma morte, os sobreviventes se adaptam e são mais ou menos capazes de retomar
as atividades normais, sentir alegria e lembrar dos seres amados sem um
sofrimento intenso.
Porém, às vezes os
sobreviventes mais próximos da pessoa falecida podem experimentar reações de
dor extremamente perturbadoras e que persistem por mais tempo.
Em janeiro, M. Katherine Shear
apresentou em "The New England Journal of Medicine" um fenômeno
batizado de "tristeza complexa", uma reação forte e incessante de
perda que persiste por mais de seis meses e pode resultar em sério risco para a
saúde.
Ela descreveu uma viúva de 68
anos que sofria agudamente mesmo após quatro anos da morte de seu marido.
A mulher dormia no sofá porque
não suportava deitar na cama que havia partilhado com ele. Não fazia mais
refeições regulares porque prepará-las era uma lembrança terrível de sua perda.
E continuava com raiva da equipe médica que cuidou do marido e consigo mesma
por não terem identificado sua doença mais cedo.
Sintomas de tristeza complexa
incluem geralmente um desejo intenso, saudade ou dor emocional; preocupação
frequente, pensamentos intrusivos e lembranças da pessoa perdida; um sentimento
de descrença ou incapacidade de aceitar a perda; e dificuldade para imaginar
uma vida significativa sem aquela pessoa.
"As pessoas com tristeza
complexa muitas vezes se sentem chocadas, atônitas ou emocionalmente
amortecidas e podem se afastar das outras por sentirem que a felicidade está
inextricavelmente ligada à pessoa que morreu", escreveu Shear, que é
pesquisadora da Universidade Columbia, em Nova York.
"A tristeza complexa é
como uma ferida que não sara e pode se seguir à perda de qualquer relação
próxima", disse ela.
O risco da tristeza complexa é
maior -de 10% a 20%- entre os que perdem um parceiro amoroso e ainda maior
entre os que perdem um filho. É mais comum depois de uma morte repentina ou
violenta e entre mulheres com mais de 60 anos.
"Quanto mais terríveis as
circunstâncias que cercam a morte, maior o risco de tristeza complexa",
disse a médica.
Os sobreviventes das seis
pessoas que morreram em um acidente de carro em Valhalla, em Nova York, em 3 de
fevereiro, assim como os pais das 20 crianças que morreram na Escola Sandy
Hook, em Connecticut, em dezembro de 2012, têm maior probabilidade de sofrer
tristeza “complexa”, disse a médica.
Holly G. Prigerson e Paul K.
Maciejewski, da Faculdade de Medicina Weill Cornell em Nova York, desenvolveram
uma Escala de Intensidade da Tristeza que pode ajudar as pessoas a determinarem
se suas reações a uma morte são severas e prolongadas o suficiente para exigir
tratamento com um profissional. Cerca de 30 mil sobreviventes preencheram essa
escala, "mas poucas pessoas -de 7 a 10%- tiveram resultado positivo"
para tristeza complexa, disse Prigerson.
Correm maior risco, segundo
ela, "as pessoas que perderam o amor de sua vida" ou que eram
fortemente ligadas ou dependentes da pessoa que morreu.
As drogas não são necessariamente a maneira mais eficaz de tratar o transtorno,
disse Shear. Uma abordagem que se baseia em estratégias usadas na terapia
cognitiva comportamental tem maior probabilidade de alcançar resultados a curto
prazo.
Ali, as pessoas encontram maneiras de pensar sobre a morte sem experimentar
"sentimentos intensos de raiva, culpa ou ansiedade" e a fazer planos
sem os entes queridos que se foram.
Fonte: suplemento New York Times, do jornal Folha de São Paulo