O que significa o termo algoritmo?
Sentido
da palavra, que deriva do nome de um matemático e astrônomo muçulmano, tem
mudado ao longo dos séculos.
José Morgado, meu professor de álgebra na Universidade do Porto,
explicava assim a diferença entre química e matemática:
“Os químicos dão nomes
complicados a coisas simples, nós damos nomes simples a coisas complicadas”.
Brincadeiras à parte, a matemática tem menos termos técnicos do que a química
(ou a biologia), mas o modo como eles são criados é bem mais interessante.
Uma coisa que os termos matemáticos partilham com as palavras
comuns é que seus significados podem evoluir ao longo do tempo. “Algoritmo” é
um bom exemplo.
A palavra deriva do nome do matemático e astrônomo muçulmano
Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi (c.780–c.850), que, no século 12, teve um de
seus trabalhos traduzido para o latim sob o título “Algoritmi de numero
indorum” (“Al-Khwarizmi a respeito dos números hindus”).
Assim ela adquiriu seu
significado original: estudo do sistema decimal de numeração, criado pelos
hindus. Dele nos resta “algarismo”, que é uma versão da mesma palavra.
Ao início do século 16, o significado já estava evoluindo. Em
“Margarita philosophica” (“Pérola filosófica”), publicado em 1503, Gregor
Reisch usou “algoritmo” para se referir a cálculo com frações ou usando ábacos.
Em 1684, Gottfried Leibniz já empregava a palavra no sentido bastante moderno
de “técnica sistemática para realizar um cálculo”.
E, quando Leonhard Euler
falou em algoritmos (sempre em latim) em 1767, esse sentido já estava bem
estabelecido.
De acordo com o dicionário Oxford, a palavra “algoritmo”
passou a existir em inglês ao final do século 17.
Outras línguas se seguiram,
mas ela continuou sendo de uso limitado até o século 19, quando foi utilizada
pelo matemático russo Andrei Markov.
No século seguinte, ela ficou intimamente ligada à computação,
com o sentido de “sequência finita de operações explícitas para resolver um
problema ou fazer um cálculo”.
É curioso que nenhum dos pioneiros da disciplina
(Gödel, Turing, Church etc.) a tenha utilizado, mas isso não impediu que se
tornasse rapidamente popular no jargão computacional.
Mas esse sentido também já está mudando, e muito: nos últimos
anos, “algoritmo” vem se referindo cada vez mais a uma inteligência artificial
cuja tomada de decisões é determinada por um treinamento baseado em dados reais
(aprendizagem de máquina), não correspondendo mais necessariamente a operações
explícitas.
MARCELO VIANA -
Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio
Louis D., do Institut de France.