Serviço chinês oferece 'descarte' de amantes


Quando descobriu mensagens no telefone de seu marido indicando que ele estava tendo um caso extraconjugal, a senhora Wang, 39, de Xangai, ficou atormentada. “Eu não conseguia dormir à noite nem parar de chorar”, disse.

Então resolveu tomar uma atitude. Mas em vez de confrontar seu marido ela procurou um “despachante de amantes’’ na internet.

Esse tipo de empresa é especializado em serviços para pôr fim a casos entre homens casados e suas amantes.

Os serviços orientam as mulheres sobre como salvar seu casamento, ao passo que induzem a amante a desaparecer. Mediante uma remuneração de no mínimo algumas dezenas de milhares de dólares, eles se infiltram na vida da amante e ganham sua confiança com o intuito de fazê-la romper o relacionamento. Esse processo pode durar meses. Esse tipo de serviço surgiu paralelamente à abertura econômica da China, quando os casos extraconjugais se tornaram mais comuns.

É difícil confirmar os relatos pessoais das usuárias do serviço, e não se sabe ao certo quantos despachantes de amantes existem na China. No entanto, uma pesquisa no Baidu, serviço de buscas chinês, rende páginas de anúncios publicitários e blogs com links para empresas desse ramo em cidades como Xangai e Guangzhou.

Wang contratou o Grupo Internacional de Clínica da Emoção e Hospital Matrimonial Weiqing, em Xangai. “Senti que não tinha outras opções, então pensei: por que não tentar?”, explicou ela, que não revelou seu nome inteiro.

O Weiqing teve êxito, disse Wang, em persuadir a amante a aceitar um emprego mais bem remunerado em outra cidade. “Não me importa como essa mulher está vivendo agora’’, confessou Wang. “Acima de tudo, estou aliviada por ter meu marido de volta.”

O Weiqing informou que foi fundado em 2001 em Xangai e desde então se expandiu para 59 outras cidades.

O processo de descarte da amante geralmente começa com uma pesquisa sobre a mulher visada, disse Shu Xin, diretor do Weiqing. Uma equipe de investigação — muitas vezes incluindo um psicoterapeuta e, por questão de segurança, um advogado — analisa sua família, amigos, educação e situação profissional antes de enviar o que o Weiqing chama de conselheiro.

“Assim que descobrimos que tipo de amante ela é — se está nisso por dinheiro, amor ou sexo —, nós traçamos um plano”, disse Shu.

O conselheiro pode se mudar para um apartamento no edifício da amante ou começar a frequentar a mesma academia que ela, tornando-se seu confidente e acabando por influenciá-la a ter sentimentos negativos em relação a seu parceiro.

Às vezes, o conselheiro acha um novo amante para ela, um emprego em outra cidade ou a convence a abandonar o homem casado. O Weiqing e outras agências afirmaram que seus conselheiros são proibidos de ter envolvimento íntimo com as amantes, de fazer ameaças ou usar de violência.

Enquanto o conselheiro entra em ação, o serviço de despacho de amantes aconselha a esposa a se tornar mais atraente para seu marido. “Nós queremos combater a mentalidade convencional”, disse Kang Na, que dirige a empresa Reunion, em Shenzhen. “As mulheres chinesas acham que se tratarem bem os homens eles as amarão mais. Com frequência, porém, nós, homens, amamos quem mais nos faz sofrer.”

Alguns despachantes de amantes começaram a operar também no exterior, atendendo principalmente mulheres de origem chinesa radicadas em outros países. Kang inclusive informou que estava se preparando para oferecer serviços em inglês para clientes não chinesas na Europa e na América do Norte.

“Nós começamos atendendo chinesas’’, comentou Kang. “No decorrer do nosso trabalho, porém, descobrimos que não só os chineses têm esses problemas. Todos têm.”

Emily Feng e Charlotte Yang – jornalistas do New York Times em Pequin

Fonte: jornal NYT

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