Abre-se a fronteira entre o alívio das dívidas e o
superendividamento
Quem decidirá
futuro dos empréstimos consignados?
Os brasileiros estão na fronteira
entre o alívio das dívidas com juros muitos elevados e a multiplicação do
endividamento das famílias.
Isso porque os empréstimos consignados CLT (Crédito do
Trabalhador) passaram a ser oferecidos pelos bancos. Antes eram restritos ao aplicativo CTPS Digital
(Carteira de Trabalho Digital).
Quem decidirá o futuro deste consignado serão os
trabalhadores com registro em carteira. Se utilizarem esse instrumento
financeiro para pagar menos juros de dívidas já assumidas, reduzirão seu
endividamento.
Mas se somarem o Consignado CLT ao que já devem, piorarão seu
perfil de endividamento.
Desde 2021, os brasileiros contam com a Lei 14.181, que alterou o CDC (Código de Defesa do Consumidor) e
o Estatuto do Idoso "para aperfeiçoar a disciplina do crédito ao
consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento".
Essa lei surgiu nove anos após uma comissão de
juristas, liderada pelo ministro Herman Benjamin, do STJ (Superior Tribunal de
Justiça), propor ajustes no Código, dentre eles, a regulamentação do comércio
eletrônico e o combate ao superendividamento.
Segundo o Indicador de Reincidência da CNDL (Confederação
Nacional dos Dirigentes Lojistas) e do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito),
"oito em cada 10 consumidores retornam para os cadastros de negativação
menos de um ano após o pagamento de uma conta negociada".
Em março de
2025, do total de negativações, 83,33% foram de devedores reincidentes, ou
seja, que já tinham aparecido no cadastro de inadimplentes nos últimos 12
meses.
Há várias causas para o superendividamento. Uma
delas é a baixa renda da maioria dos brasileiros –o rendimento domiciliar per
capita, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)–
atingiu R$ 2.069 em 2024.
As altas taxas de juros contribuem para o
endividamento, em especial quando este ocorre no cartão de crédito.
Os juros do
crédito rotativo subiram para 450,6% em fevereiro último, enquanto os do
parcelado atingiram 181,8%.
Além disso, a educação financeira em larga
escala continua uma necessidade não atendida. Há, também, a percepção de que,
para um vasto segmento dos adultos jovens, o importante seria viver uma vida
com mais conforto e diversão, mesmo que mais endividados.
Sem desejar ser pessimista, tenho a impressão de que voltarei
muitas vezes a tratar de endividamento das famílias e de superendividamento.
MARIA INÊS DOLCI -
advogada especializada na área da defesa do consumidor