Com medo do desemprego, o consumidor
está fugindo de financiamentos e partindo para operações de crédito que não
envolvem pagamento de juros.
É esse o cenário mostrado por dados
de agosto divulgados neste mês pelo Banco Central: juntas, as operações no cartão
de crédito parceladas sem juros e à vista somaram R$ 62,9 bilhões, alta de
11,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Elas já representam 42,3% dos novos
empréstimos pessoais totais, percentual que era de 39,4% em agosto de 2015. Os
números do BC, que englobam essas duas operações em uma categoria (cartão de
crédito à vista e cartão parcelado sem juros), ainda mostram ela foi a única a
ter crescimento acima da inflação oficial quando a base de comparação é agosto
do ano passado. A variação de preços no período foi de 8,7%.
"Há uma reversão do que ocorreu
há 15 anos, quando as pessoas estavam sedentas por crédito. Hoje, o pensamento
é: aquilo que dá para comprar, pago à vista ou no parcelado sem juros",
afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
Os novos empréstimos de cheque
especial, por exemplo, subiram somente 2,8% em relação ao ano passado, segundo
o BC. O cartão de crédito rotativo caiu 4,9% no período, e o montante gasto no
cartão de crédito parcelado com juros recuou 18,6%.
Os números da Abecs (Associação
Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) confirmam a tendência
de aumento das modalidades sem juros.
Além do crescimento no cartão à vista
e parcelado sem incidência de juros, a entidade registrou aumento de 13% nas
transações com cartão de débito no primeiro semestre.
- GASTOS
"O brasileiro está usando o
cartão de uma forma melhor, mais consciente", afirma Ricardo Vieira,
diretor-executivo da Abecs.
"Essa cautela fica clara no
tíquete médio, que está menor por causa da crise econômica, mas também por
causa de um comportamento mais cuidadoso."
O valor médio gasto pelo consumidor
no cartão de crédito à vista, segundo a associação, caiu de R$ 47,7 no primeiro
semestre do ano passado para R$ 43,6 no mesmo período deste ano.
Na mesma comparação, o tíquete médio
do cartão parcelado sem juros, que era de R$ 217,2 no ano passado, recuou para
R$ 203,1 neste ano.
No caso do cartão de débito, a queda
no valor foi de R$ 39,7, em média, para R$ 37,1.
- QUANTO O
CONSUMIDOR GASTA
Média por operação no primeiro
semestre:
- Parcelado = R$ 203.10
- Débito = R$ 37,10
- A Vista = R$ 43,60
Fontes: Banco
Central e Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços
- ENDIVIDAMENTO
"Muita gente ainda está pagando
o que tomou de empréstimo lá atrás", lembra Reinaldo Domingos, fundador da
escola de educação financeira DSOP. "As pessoas estão com medo de se
endividarem ainda mais."
Ele lembra que, mesmo que o
consumidor opte pelo parcelamento sem juros ou mesmo pelo cartão de crédito à
vista para fazer suas compras, deve fazer um acompanhamento cuidadoso.
"No caso do cartão de crédito à
vista, o consumidor ganha alguns dias para pagar, o que é positivo, mas não
pode esquecer de se programar. Quanto maior o prazo, maior o risco de se
embananar", explica Domingos.
O educador financeiro destaca ainda
que muitas lojas acabam embutindo nas parcelas o custo do financiamento, mesmo
que o parcelamento dos produtos seja anunciado como sendo sem a incidência de
juros.
COMO SE
DIVIDEM OS GASTOS
- A VISTA =
49,80 %
- PARCELADO
SEM JUROS = 50,20 %
- Débito = R$ 37,10
Fontes:
Banco Central e Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e
Serviços