O
aumento radical da expectativa de vida mudará a cara do mundo nas próximas
décadas — e isso deverá se transformar em imensas oportunidades para as
economias e para as empresas.
O mapeamento do genoma humano, em 2003, impulsionou
dramaticamente o avanço da biotecnologia — uma técnica de produção de remédios que,
em vez de componentes químicos, usa células e outros organismos vivos para
tratar doenças.
Uma década depois da decodificação do genoma humano, estamos
começando a perceber seu potencial. Por isso, temos melhor compreensão das
doenças e da biologia humana”, diz o americano Jack Watters, vice-presidente de
assuntos médicos da Pfizer.
Hoje, um terço dos investimentos feitos por laboratórios e
universidades em novos remédios, cerca de 56 bilhões de dólares, está ligado à
biomedicina, muito eficaz no combate a algumas das doenças que mais matam
idosos e os deixam com a saúde fraca nos anos finais.
O valor é mais do que o dobro do total aplicado há dez anos. No
começo da década passada, havia apenas um biotecnológico no ranking dos dez
remédios mais vendidos. No ano que vem serão sete, e a tendência é que o número
cresça. Segundo um estudo publicado em junho pela empresa americana de
pesquisas científicas Battelle, o impacto econômico do mapeamento genético até
agora é de 796 bilhões de dólares.
O barulho em torno do código genético foi tão grande que alguns
bilionários, como o mexicano Carlos Slim, o segundo homem mais rico do mundo,
decidiram aumentar as doações para centros de pesquisa.
Nem tudo são flores
O aumento da longevidade, porém, trará uma série de desafios
para a humanidade — a começar pelo tamanho da população. Para a canadense Sonia
Arrison, professora da Singularity University, que funciona no campus da
agência espacial americana Nasa, isso não será um problema.
Autora do bestseller 100 Plus (“Mais de 100”, numa tradução
livre), Sonia acredita que os avanços tecnológicos, como o aumento da
produtividade da agricultura e a dessanilização da água do mar, permitirão que
o planeta dê conta do aumento do número de pessoas.
Para a maioria dos economistas que se debruçam sobre a questão
da longevidade, no entanto, a questão é mais complexa. A começar pela
previdência, vista como uma bomba-relógio. Nesse sentido, o envelhecimento é
democrático. Desafia os governantes de países emergentes e desenvolvidos.
Até o momento não há uma fórmula exata de como solucionar o
problema. Na Europa, assim como no Brasil, o custo das aposentadorias e pensões
representa 13% do PIB da região — ou 2,2 trilhões de dólares. Nem mesmo a
Alemanha, apontada pela ONU como um dos cinco melhores países para envelhecer,
consegue assegurar um padrão de vida confortável a seus idosos.
Estima-se que 15% da população alemã com mais de 65 anos viva
com menos de 1 200 euros por mês, o que os coloca na faixa de pobreza. Qualquer
que seja a solução para essa questão, ela passará pelo aumento da idade mínima
de aposentadoria — em linha com o que 20 dos 28 países da União Europeia já
decidiram fazer até o fim desta década.
Para quem tem a perspectiva de viver muitos anos mais, a mudança
das regras da aposentadoria é o preço a pagar. Viver mais, afinal, pode
significar saborear uma existência longa, saudável e também mais produtiva.
Bem-vindo à economia da longevidade.
Bruno Ferrari,
Fabiane Stefano
e GuilhermeManechini – jornalistas da revista Exame
Fonte: revista Exame