Mark Bustos é um cabeleireiro no Three Squares Studios, um salão
elegante em Nova York cujos clientes, como Norah Jones e Mark Jacobs, pagam US$
150 (R$ 390) por um corte. Mas aos domingos ele vai à rua e corta cabelos de
mendigos de graça.
"Você acredita que isso está acontecendo?", perguntou
David Terry, sentado no banco de um parque, sob a tesoura de Bustos. Mesmo para
quem não tem aonde ir, parece que há algo especial em estar com a melhor
aparência.
"Quer eu esteja cortando no salão ou na rua, acho que todos
nos relacionamos ao corte de cabelo e como ele nos faz sentir", disse
Bustos ao "NYT". "Todo mundo sabe como é boa a sensação de ter o
cabelo bem cortado."
Ele teve essa ideia quando visitou sua família nas Filipinas em
2012. Impressionado pelo número de crianças que viviam na pobreza, Bustos
contou que alugou uma barbearia. "Isso me fez sentir tão bem", disse
ele. "Tive que trazer de volta para Nova York."
Outros encontram maneiras de juntar negócios com caridade. Ann
Dunn, que já trabalhou em habitação pública, disse que ficou
"obcecada" por encontrar casas para gatos abandonados. Seu sonho era
abrir um santuário para gatos com café.
"Se disséssemos 'Venha conhecer gatos e adotá-los',
provavelmente as pessoas não viriam", disse Dunn ao Times.
Ela e Adam Myatt, que produzia calendários com fotos de gatos,
levantaram US$ 400 mil (R$ 1,04 milhão) para abrir o Centro de Adoção e Café
Cat Town em Oakland, na Califórnia.
Os cafés com gatos já são tradicionais no Japão, mas poucos
servem como centros de adoção. A Cat Town afirma ser o primeiro do tipo em
caráter permanente nos EUA. Ela vende café, pães caseiros e delícias veganas.
Os clientes visitam os gatos em uma área separada, onde os
felinos descansam em camas em forma de latas de atum, em vez das gaiolas
típicas de um abrigo.
"Isso os tira de um ambiente feio e os coloca em uma
situação interessante, onde podem se conectar com muita gente que poderia
adotá-los", disse ao Times Rich Avanzino, da Maddie's Fund, um grupo de
resgate que ajudou a Cat Town Cafe.
Uma hora de brincadeira com os gatos custa US$ 10 (R$ 26), e a
taxa de adoção de um felino é de US$ 50 (R$ 130). Dunn e Myatt disseram que o
negócio sempre foi mais salvar os gatos do que ganhar dinheiro.
A comediante Margaret Cho disse que aprendeu a retribuir à
comunidade por meio de um amigo: Robin Williams.
Williams, que se suicidou em agosto, levantou milhões de dólares
para os sem-teto e era o "cobertor de segurança de todos nós", disse
Cho ao "NYT".
Quando lamentava a morte do ator, um amigo lhe disse: "Não
fique de luto por Robin, seja ele".
Cho começou a se apresentar em um abrigo e em locais de encontro
dos sem-teto. As doações -casacos, sapatos e cobertores- ficavam sobre as
mesas.
Em uma delas, Michael Austin, que está há oito anos nas ruas,
disse que já recebeu roupas antes, mas nada tão bom. "Isto é
maravilhoso", disse.
A maioria das apresentações, segundo Cho, levanta US$ 2.000 (R$
5.200). Ela divide o dinheiro em notas de US$ 1 e as distribui.
"Não há nada melhor que fazer notas de dinheiro choverem
sobre um sem-teto. É uma coisa maravilhosa, e por que não?".
O cabeleireiro Bustos disse que muita gente lhe pergunta como
pode entrar para seu time do bem. "Minha resposta é simplesmente vá e
faça", disse ele.
Deborah Strance – jornalista do New York Times
Fonte: suplemento NYT do jornal FSP