Escolas do futuro são escolas 'low tech'
Materiais físicos
impulsionam habilidades motoras, criatividade e imaginação.
Chamou a atenção da imprensa, no ano passado, o
fato de que o sistema público de educação da Suécia decidiu voltar a usar livros e cadernos físicos como
material didático obrigatório no lugar de tablets e lap tops.
As razões
apresentadas pelos suecos são várias, mas passam pela aprendizagem da leitura e
pela manutenção da capacidade de concentração dos estudantes.
Em ambos os
casos, os materiais físicos apresentam resultados muito melhores.
Os escandinavos não estão sozinhos. Já forma uma
longa fileira a lista de países desenvolvidos que vêm progressivamente
abandonando equipamentos digitais e retornando ao papel e à caneta.
As
autoridades educacionais desses países baseiam-se em pesquisas científicas
recorrentes, que apontam não só a melhoria do rendimento acadêmico como
também o desenvolvimento mais adequado de habilidades motoras e o impulso à
criatividade e à imaginação, sempre melhor estimuladas pelo uso de materiais
físicos nas escolas.
Não há que se imaginar a escola contemporânea
totalmente desconectada do mundo digital.
Evidentemente, salas de aulas com
computador e conexão à internet, que permitam a exibição de materiais
visuais diversos, além de espaços com equipamentos digitais para pesquisa
online mostram-se indispensáveis no mundo de hoje.
A tecnologia digital, no entanto, não é
fetiche ou panaceia. Ela não só não é capaz de solucioná-los, como por vezes
termina por ampliá-los.
Jonathan Haidt, professor da Universidade de
Nova York, publicou dados alarmantes em seu novo livro, "The Anxious
Generation" ("A Geração Ansiosa"), que aborda a deterioração da
saúde mental de crianças e adolescentes a partir de 2010.
Quadros de depressão,
ansiedade, automutilação e suicídio têm aumentando dramaticamente desde então.
Não à toa, é justamente a partir de 2010 que se dá a generalização do uso das
redes sociais, notadamente o Instagram, difundindo-se entre os mais jovens.
Ao largo das pressões negativas do mundo virtual, que captura
a atenção dos mais jovens, corrói sua capacidade de concentração e os
transforma em objetos manipulados por algoritmos, educadores têm reiterado a
necessidade da redescoberta das relações de proximidade e do mundo físico.
Nas
mais renomadas escolas do Vale do Silício, na Califórnia, onde estudam os
filhos dos executivos das grandes corporações mundiais de tecnologia, há poucas
telas de LED e muitas ferramentas.
No lugar do computador, lápis e canetas, mas
também martelos, chave de fenda, pincéis.
A educação "mão na massa",
com objetos e materiais físicos,
predomina em relação a dispositivos eletrônicos.
Diante da revolução representada pelo Big Data e pelas
inteligências artificiais, devemos nos manter firmes como educadores que visam
produzir conhecimento, não apenas reproduzir o que está armazenado nas bases de
dados de governos e empresas.
Afinal, a educação não é apenas dar acesso a
informações, mas principalmente fazer refletir e questionar a partir das
informações que acessamos.
JOSÉ RUY LOZANO
- sociólogo e
educador, é autor de livros didáticos e membro da Comunidade Reinventando a
Educação (Core)