Edmar Bacha explica 'Para não esquecer'
Livro
organizado por Marcos Mendes revê políticas adotadas nas últimas décadas.
Na segunda-feira dia 30de maio, houve no Insper o
lançamento do livro "Para não esquecer: políticas públicas que
empobrecem o Brasil", organizado por Marcos Mendes com 25 capítulos que reveem
políticas adotadas nas últimas décadas.
Edmar Bacha fez, no evento, a apresentação do
conteúdo do livro. Compartilho com meus leitores as observações de Bacha, por
ele chamadas de "politimétricas".
"Primeira observação é que metade das
políticas analisadas nos 25 capítulos do livro lida com expansões equivocadas
do gasto público, que não passam numa análise de custos e benefícios sociais; a
outra metade com políticas que distorcem a alocação de recursos, reduzindo o
bem-estar social.
Segunda observação é que 2/3 dessas políticas foram
implantadas entre 2003 e 2012.
Se as somarmos às más políticas anteriores que
tiveram continuidade nesse período, chegamos à conclusão que 80% das políticas
equivocadas analisadas no livro tiveram curso durante os governos do PT.
São políticas que foram aplicadas em nome do
chamado nacional-desenvolvimentismo.
Trata-se de uma visão de política
econômica que tem quatro vertentes, todas danosas.
A primeira é a ideia que
"gasto é vida", que justifica o expansionismo fiscal-monetário. A
segunda é o estatismo, que justifica as empresas públicas.
A terceira, o
intervencionismo, que justifica a interferência do setor público no setor
privado. A quarta, o protecionismo, que justifica o fechamento da economia.
O período 2003-2012 teve duas características. A
primeira já mencionada é que foram de governos do PT.
A segunda é que foi nesse
período que se manifestou o super boom das commodities ao qual se associou a
descoberta do pré-sal.
Foi da conjunção das ideias econômicas erradas do
PT com a abundância de recursos nas mãos do governo que resultou a maior parte
das políticas equivocadas analisadas no livro.
A união de ideias erradas com
dinheiro na mão é explosiva. Provocou aqui o "efeito voracidade" de
que trata a literatura sobre a maldição dos recursos naturais.
O fato é que essas ideias erradas continuam por aí
e poderão ascender de novo ao poder a partir de 2023.
Só que nesse caso será
sem dinheiro na mão –dinheiro este que, no super boom das commodities, impediu
que essas políticas equivocadas tivessem efeitos ainda mais inflacionários e
fossem ainda mais danosas do que já foram."
"Levadas à frente no ambiente externo
desafiador que se afigura para os próximos anos, tais ideias poderão levar a
economia brasileira para um desastre completo, ao estilo da Argentina ou da Venezuela.
Daí a importância deste livro.
Dar munição a
pessoas esclarecidas que estejam num eventual novo governo do PT –se for esta a alternativa ao descalabro
bolsonarista de que todos queremos nos livrar– a impedir a
repetição do rosário de políticas equivocadas implantadas entre 2003 e 2012.
Melhor ainda se o livro tiver o efeito de alavancar uma terceira via política
(agora representada pela muito bem-vinda candidatura de Simone Tebet), porque aí sim poderíamos nos
livrar de uma vez tanto dos populismos de esquerda quanto dos da direita.
E assim retomar as reformas econômicas
progressistas e liberalizantes que caracterizaram o governo de FHC. Reformas
essas bem descritas nos 30 episódios dos podcasts da Casa das Garças sobre a
Arte da Política Econômica."
SAMUEL PESSÔA - pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia
(FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.