Muitas crianças e adolescentes estão presentes nos espaços
públicos e coletivos neste período de férias. Estão nos shoppings, em parques,
em praças, hotéis, restaurantes e lanchonetes, em grupos com seus pares –no
caso de adolescentes– ou com as famílias.
Não é nada difícil encontrá-los usando freneticamente seus
aparelhos celulares. Vi isso acontecer até com crianças pequenas, com mais ou
menos sete anos. E vi adultos, também no mesmo uso frenético do aparelho,
muitas vezes sendo demandados pelos filhos, porém sem lhes dar a atenção
necessária.
Você, caro leitor, também já deve ter testemunhado esse fato.
Será saudável? Foi essa a questão enviada por uma leitora, que pergunta a
partir de qual idade devemos liberar o celular para os filhos.
"A partir de quando devemos transformar nossos filhos em
zumbis?", pergunta ela. Não é a primeira vez que vamos conversar sobre
essa questão, mas os fatos nos pedem mais reflexões –e ações!
Um celular na mão de uma criança transforma-se em um brinquedo
que a faz brincar sozinha. Mesmo ao trocar mensagens instantâneas, as crianças
continuam sozinhas e –o mais importante– sem usar seu corpo por inteiro.
Sim: esta geração de crianças e jovens tem um controle visomotor
absurdamente desenvolvido! Quem já viu uma criança ou adolescente manusear o
teclado ou a tela de um aparelho ou o controle de um videogame pode ficar
assombrado, tamanha a agilidade que eles têm nos dedos, que respondem ao que
veem.
Entretanto, eles não sabem usar seus corpos, quase sempre
desajeitados, sem equilíbrio e sem noção de seu espaço vital. É por isso que
andam trombando uns nos outros e caindo perigosamente, em situações nas quais
deveriam poder se equilibrar.
Além dessa questão, há outra bem delicada: o uso constante
desses aparelhos rouba dos mais novos as oportunidades que eles têm de aprender
a se relacionar com o outro no espaço comum.
Não é à toa que eles arrumam tantas confusões entre eles e com
as chamadas celebridades no espaço virtual: porque eles imaginam que, nesse
espaço, os princípios que regem as interações humanas são diferentes dos que
existem na realidade.
Eles –como muitos adultos– acham que, no espaço público virtual,
podem esconder-se atrás de um apelido ou de um nome falso e falar tudo –tudo
mesmo– o que pensam e também o que não pensam, mas que sabem que afeta e magoa
o outro, seja ele próximo ou não. Acham também que podem agredir verbalmente,
expor intimidades, sejam elas próprias ou do outro, sem consequências.
Tudo isso porque usam o espaço virtual precocemente, sem que
tenham aprendido anteriormente os princípios do relacionamento interpessoal e
percebido as delicadezas e sutilezas que ele exige de todos.
Não há necessidade alguma de que crianças tenham seus próprios
celulares. Quando quiserem muito acessar algo, podem fazer isso com o de seus
pais, que, assim, as tutelam de perto e, de quebra, ainda ficam sem o aparelho
por um período ao lado de seus filhos.
Mas e se quase todos os colegas deles tiverem seus próprios
aparelhos e os portarem sempre que estiverem juntos?
Nesse caso, peço aos pais que pensem bem se esse é um bom
argumento para a família ceder qualquer coisa aos filhos. Você acha que é?
Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar.
Fonte: coluna jornal FSP