Todos nós fazemos comparações com outras pessoas em
vários momentos da nossa vida. Para ter sucesso em um mundo competitivo, é
natural que comparemos nosso progresso com o de pessoas ao nosso redor. E para
aqueles com grande necessidade de realização, a comparação constante se torna
uma fonte de motivação e uma forma de estabelecer metas claras para o sucesso
profissional.
Porém, quando você se pega comparando a sua carreira com
a de outras pessoas a todo momento, pode sentir os dolorosos efeitos da inveja,
permitindo se sentir inferior com base nas realizações do próximo. Segundo um
estudo recente, mais de 75% das pessoas relataram sentir inveja de alguém no
ano passado. Embora a inveja possa ser motivadora para alguns, para outros pode
sabotar as chances de sucesso. Veja algumas estratégias capazes de eliminar a
agonia da comparação e, no fim, fazer com que a inveja seja algo benéfico para
você.
Permita-se sentir inveja, mas não sinta vergonha.
É quase impossível não sentir inveja. Mas você pode
controlar a vergonha que geralmente acompanha esse sentimento e exacerba o
problema. Para evitar que a inveja aguda se transforme em um problema crônico,
você deve aceitar pacificamente o desconforto e não ceder ao sentimento de
vergonha que costuma aparecer.
Pesquisas recentes mostram que ficamos com menos inveja
das coisas depois que elas acontecem do que antes. Por exemplo, ficar sabendo
que um colega será promovido daqui a algumas semanas para o cargo que você
deseja gera mais sentimentos de inveja do que pensar sobre as promoções que já
ocorreram. E quando a inveja toma conta de você, se começar a “se sentir mal
por estar mal”, você basicamente transforma uma emoção humana, que todos
sentimos, em uma espécie de autoaversão emocional e vergonha.
Lembre-se de que, embora não consiga controlar a inveja,
certamente pode optar por sentir ou não vergonha em relação a isso. E quando
você pacientemente se permite sentir inveja de uma situação e evita que a
vergonha prolongue seu impacto negativo, o sofrimento diminui de forma gradual.
Pare de comparar e seja mais curioso.
Para evitar que a comparação se torne autodestruição,
seja curioso sobre o motivo pelo qual alguém despertou a inveja em você e
explore como a jornada dessa pessoa pode lhe ensinar algo sobre o seu futuro,
em vez de supor que o sucesso dela, de alguma forma, lhe priva de
oportunidades.
Quando entrei na faculdade há 29 anos, morava no mesmo
andar que uma colega de classe que agora trabalha como âncora de uma rede
nacional de notícias, de outro que é embaixador dos Estados Unidos no Oriente
Médio e de outro, que hoje lidera uma das maiores empresas de capital privado
do mundo. São apenas algumas pessoas bem-sucedidas que tive a chance de
conhecer quando éramos apenas adolescentes, antes que qualquer um de nós
soubesse quais carreiras seguiríamos.
Embora eu não tenha seguido a mesma profissão que eles
depois da faculdade, às vezes, caí na armadilha da comparação, refletindo sobre
o sucesso que cada um de nós alcançou, com diferentes graduações (por exemplo,
fama, vida financeira, realizações), apenas devido a esse ponto em comum que
tivemos no passado. Mas, da mesma forma que aconselho outros líderes de alto
desempenho, sei como é limitante interpretar o sucesso de outra pessoa como um
sinal de inferioridade pessoal. Em vez disso, posso interromper a autoanálise e
passar a me concentrar em uma curiosidade externa.
Ao ficar curioso sobre o motivo pelo qual considerei as
experiências deles muito mais importantes do que a minha, percebi que era
porque suas histórias refletiam alguns dos meus valores e interesses. Então,
pensei no meu trabalho como coach executivo e no que as
jornadas dessas pessoas poderiam me ensinar sobre a carreira que escolhi. Esse
raciocínio me fez pensar em como poderia levar o coaching ao
mundo dessas pessoas, envolvendo mídia, entretenimento, diplomacia e capital de
risco.
Em pouco tempo, em vez de ficar me criticando, senti-me
empolgado com minha futura carreira. Fiz isso ao escolher a forma de encarar os
elementos que me levaram a fazer comparações. Percebi que todos nos tornamos
bem-sucedidos de maneiras imprevisíveis, dependendo de combinações que envolvem
esforço, persistência, resiliência e até mesmo, sorte.
Aproxime-se daqueles que lhe causam inveja, em vez de se
afastar.
Ser feliz por alguém que você inveja é difícil porque
pode reforçar a ideia de que a pessoa é superior a você. Como sentimos
mais inveja do sucesso de outra pessoa, dependendo da similaridade do nosso
trabalho ou da proximidade do nosso relacionamento, geralmente lidamos com a
situação nos afastando, em vez de nos beneficiarmos deste relacionamento.
Por muito tempo, um dos meus clientes de coaching atuava
como vice-presidente de uma empresa da Fortune 500. Sua colega de trabalho
havia sido contratada recentemente, e logo foi promovida para ser sua chefe.
Ele sempre comparava sua carreira com a dela e a evitava, pensando até em pedir
demissão.
Após nos aprofundarmos um pouco mais, descobrimos que
ele nem queria o cargo de vice-presidente sênior e até concordou que ela seria
melhor do que ele. O que o fez sentir inveja foi a crença de que o CEO da
empresa agora o considerava uma pessoa menos competente e motivada do que a
vice-presidente sênior. Sendo assim, ele não a invejava porque necessariamente
desejava as mesmas realizações que ela. O que ele realmente cobiçava era a
validação que ela obteve de uma fonte que ele considerava ter alto status e
poder (o CEO). Com base nesse insight, ele decidiu se aproximar de
sua colega – em vez de se afastar – e ser sincero com ela sobre sua
dificuldade.
Ela compreendeu sua sinceridade e vulnerabilidade ao
esclarecer seus medos, em vez de projetá-los injustamente nela. Para sua surpresa,
a vice-presidente sênior o reconfortou e disse: “Eu respeito seu conhecimento e
experiência aqui e não quero perdê-lo. Vamos ajudar um ao outro a ter sucesso
aos olhos do CEO.”
Ver as pessoas que você inveja como aliadas em sua
jornada, e não como uma ameaça aos seus objetivos, pode ser doloroso a
princípio, mas se mostra altamente benéfico para o seu sucesso futuro. Se você
sempre evita pessoas que desencadeiam uma comparação consigo mesmo, pode nunca
saber que essas pessoas de sucesso talvez desejem ajudá-lo.
Veja sua carreira como um portfólio de investimentos,
não como um emprego.
Quando você relaciona o seu valor pessoal ao seu
trabalho, fica suscetível à decepção sempre que vir alguém alcançar algo que
você não alcançou. Porém, ao definir sua carreira como um portfólio
diversificado de investimentos em tempo e talento, realizados para agregar
valor ao mundo, você pode se proteger daqueles momentos dolorosos, quando sente
que está defasado em alguma área, com atividades que constroem uma liderança.
Veja o exemplo de Peter, diretor de RH de uma empresa da
Fortune 500, que amava seu trabalho e sua empresa, mas estava insatisfeito em
relação ao rumo que sua carreira estava tomando. Ele tinha excelente
desempenho, mas a empresa continuava protelando sua promoção a vice-presidente
devido ao número, tradicionalmente baixo, de cargos de vice-presidente e, ainda
mais baixo, de cargos acima dessa posição.
Tomado pela impaciência, Peter estava sempre se
comparando a outros em sua rede que estavam progredindo em outras empresas, mas
também não queria deixar a sua, pois a considerava um dos melhores lugares para
se trabalhar.
Pensando em sua carreira como um portfólio de atividades
em vez de um emprego, ele focou em sua experiência na área de RH. Durante seu
tempo livre, começou a escrever um blog sobre o assunto nas redes sociais.
Alguns meses depois, um especialista em RH com ideias semelhantes o procurou
para conversar sobre iniciarem um podcast juntos.
A chefe de Peter percebeu que ele mantinha o mesmo nível
de comprometimento no trabalho; por conta disso, ela apoiava seus textos e até
compartilhava suas postagens com executivos da empresa para promover seu
perfil. Ele ficou empolgado com a reação positiva e começou a tratar sua
carreira como um portfólio de investimentos em constante evolução, o que
aumentaria seu valor futuro, independentemente de ele decidir ficar ou sair da
empresa.
Todos nós comparamos nossas carreiras com as de outras
pessoas em algum momento. Quando você perceber que está sendo sugado pela
espiral da comparação, seguir essas estratégias lhe ajudará a reduzir o
desconforto e até transformar a inveja em algo benéfico para você.
Nihar Chhaya
- coach executivo de líderes de empresas globais, dentre elas
American Airlines, Coca-Cola, GE e Dell. Ex-diretor corporativo de
desenvolvimento de talentos da F500, Chhaya atualmente é presidente da
PartnerExec, ajudando líderes a dominar o conhecimento interpessoal para
melhores resultados comerciais e estratégicos.