No dia 8 de maio de 2015, dia em que me tornei professora
titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tomei uma decisão que pode
parecer um verdadeiro sacrifício para as mulheres. Resolvi que, durante um ano,
não iria comprar absolutamente nada para o meu uso pessoal, como vestidos,
saias, blusas, calças, lingeries, sapatos, bolsas, acessórios etc.
No mesmo ano doei mais de 80% de tudo o que eu tinha para
diferentes pessoas e instituições. Nunca fui consumista e muito menos uma
seguidora de modas. Mesmo assim, tinha coisas que nunca havia usado e que não
combinavam comigo: sandálias de salto alto, sapatos de bico fino, blusas
estampadas, bolsas enormes.
Fiquei só com o que eu realmente uso e gosto: algumas calças
jeans, leggings, camisetas, shorts, biquínis e tênis.
Em 2016 decidi continuar o meu exercício de desapego e não
comprei, durante o ano inteiro, uma só peça de roupa, nem mesmo uma meia.
Não tenho empregada ou faxineira, e sempre arrumei e limpei a
minha casa. Uso a máquina de lavar para lençóis e toalhas, mas gosto de lavar
as minhas roupas à mão. Só tenho roupas que não amassam e que não precisam ser
passadas. Cuido com carinho de tudo o que tenho, pois são as coisas que gosto
de usar: confortáveis, básicas e que combinam comigo.
Não faço parte de nenhum movimento anticonsumista. Sempre tive
uma vida muito simples e nunca gostei de ir a festas e eventos sociais.
Basicamente só saio de casa para trabalhar, resolver os problemas cotidianos e
caminhar na praia. E, para este estilo de vida, tenho roupa suficiente para
viver durante muitos anos. Talvez até para o resto da minha vida.
Organizar, limpar e tirar os excessos do meu guarda-roupa tem me
ajudado a fazer o mesmo com tudo o que não quero mais na minha vida. Este
exercício diário tem me ensinado a valorizar, cada vez mais, a vida que escolhi
ter: cada vez mais simples, gostosa e feliz.
Neste 1º de janeiro de 2017 decidi simplificar ainda mais a
minha vida. Não é uma promessa, um desafio, um sacrifício ou um teste de
abstinência. Apenas percebi que não preciso (nem quero) nada além do que já
tenho. Será mais um ano sem compras desnecessárias.
Você também gostaria de simplificar a sua vida em 2017?
Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo,
envelhecimento, casamento e infidelidade'.
Fonte: coluna jornal FSP