Terminei de ler o artigo O espelho brasileiro: a falta de
planejamento para a aposentadoria, de Evandro
Oliveira - diretor da área de
previdência da Towers Watson Brasil - publicado pela Harvard Business Review (clique aqui). Confesso que o título me intrigou, porque tudo o
que fazemos em Previdência é falar e incentivar o planejamento para a aposentadoria.
Mas Evandro Oliveira explica o quanto o enfoque desse
planejamento é baseado na relação baixa
contribuição + rentabilidade diferenciada = benefício adequado. Essa
fórmula seria relativamente verdadeira em minimamente estáveis. Entretanto, no
Brasil, a sua efetividade fica comprometida. Ou, como explica Evandro Oliveira:
"Historicamente este
objetivo de nível de reposição é de 50% a 60% do salário antes de ser aposentar,
incluindo o benefício teórico do INSS. Estes planos normalmente possibilitam
que os participantes realizem contribuições voluntárias para aumentar sua renda
na aposentadoria, o que poucos
fazem por desconhecerem a real necessidade de renda quando se aposentarem".
Penso que se temos um bom
índice de efetividade nas campanhas de adesão - a média nacional é de 80% dos trabalhadores com acesso à
Previdência Complementar Fechada -
ainda há muito trabalho a fazer em relação à consciência e à atitude previdenciária.
Porque existe uma determinação muito clara, segundo Evandro Oliveira:
"Outra necessidade nossa
é ajustar a métrica para o risco que, em vez de ser medido pela volatilidade do investimento,
passa a ser medido pela volatilidade
da renda na aposentadoria".
Adesão: o primeiro passo de
uma longa jornada
O fato é que - no imaginário - ainda temos poucos estímulos positivos para
planejar ativamente a aposentadoria. Entendemos a contribuição mensal como mais
do que suficiente para garantir o que queremos esquecer. Terceirizamos a nossa
preocupação com o futuro, como se isso fosse capaz de transformar a realidade
que enfrentaremos. Afinal, além do contexto, existe uma regra comum:TODOS VAMOS
NOS APOSENTAR. E a diferença será a atitude previdenciária que pudermos adotar
antes e durante a aposentadoria.
"O desenvolvimento de
carreira e a evolução salarial, bem como as decisões que tomamos ao longo da
vida, tais como filhos, casamentos, divórcios, condições de saúde e nosso ciclo
de convívio social, determinam nossa necessidade de gastos e, consequentemente,
a necessidade de renda na aposentadoria.
Ao longo desse percurso,
poucos se preocupam em rebalancear suas contribuições e alocação de
investimentos para obter uma renda de aposentadoria adequada. É
muito comum ver executivos brasileiros buscar entender seu plano de
aposentadoria próximo aos 50 anos de idade, quando já deve ser muito
tarde".
Isso indica que a Comunicação e a Educação Previdenciária têm que ser intensificadas em direção a um discurso mais realista,
para evitar o risco de frustração das expectativas, cada vez mais inerente ao
negócio da Previdência Complementar.
Legado intergeracional
É evidente que, posta em perspectiva, esta história mostra muitas soluções
próprias de diferentes momentos sociais. E mostra também tudo o que há para ser
feito para que o futuro realmente possa garantir melhores condições de
sustentabilidade da vida para todos.
O legado dos juros compostos é real. Assim como são reais os novos patamares de
consumo. Compatibilizar as duas realidades é o desafio que se impõe a todas as
gerações. Há que se atualizar as bases da atitude previdenciária. Quanto mais
consciência e determinação para que ela seja realista, melhor será a
convergência entre presente e futuro. Hoje, já não se discute mais o que o
Governo e o empregador fazem pelo futuro do trabalhador. Hoje, a discussão é:
como o planejamento de vida deve incluir a aposentadoria como um período de
realização pessoal do cidadão para que - do berço ao túmulo - ele seja mais
livre, independente e realizado.
Eliane Miraglia -
mestre em Ciências da Comunicação (ECA/USP), desde 1991 atua no segmento de Previdência Complementar, consultora da Suporte, é autora
do blogue Conversação.
Fonte: http://elianemiraglia.blogspot.com.br