Com a troca dos planos de benefício definido pelos
planos de contribuição definida, o bem estar dos aposentados passou a depender
cada vez mais da habilidade deles tomarem decisões financeiras adequadas ao
longo da aposentadoria.
Isso tem causado preocupação porque o declínio
cognitivo que acompanha o envelhecimento pode comprometer a capacidade dos
idosos de tomarem decisões, por conseguinte, ameaçando seu bem-estar
financeiro.
“Os médicos precisam entender como o envelhecimento
do cérebro, seja este sadio ou afetado por doenças neurológicas, impacta a
tomada de decisões financeiras”, diz o Dr. Mark Lachs da Weill Cornell
Medical College em Nova York. “Pessoas idosas podem não ter renda
suficiente nem um horizonte de investimentos longo o bastante, que permitam
recuperar perdas”, completa ele.
Uma perda considerável de recursos pode resultar em
mudanças dramáticas na qualidade de vida desses idosos, sendo inconsistente com
as escolhas que fizeram quando eram mais jovens.
O Dr. Lachs e seu colega Duke Han, do University
Medical Center em Chicago, definiram a “vulnerabilidade financeira”
associada à idade, como um padrão de comportamento arriscado relacionado a
dinheiro, que coloca adultos mais velhos em perigo substancial.
Metade dos casos de abuso de idosos recai na
exploração financeira. Os idosos ficam financeiramente vulneráveis por fatores
que incluem declínio cognitivo ou emocional, deficiência visual, auditiva ou de
mobilidade, progressão de doenças graves e isolamento social. Além disso,
determinados medicamentos podem contribuir para o declínio cognitivo tornando
mais difícil para adultos mais velhos gerenciarem seu dinheiro.
"No mundo ideal, faria sentido mensurar a vulnerabilidade
financeira como parte da avaliação regular e periódica dos problemas mais
comuns relacionados ao envelhecimento, como quedas, questões de mobilidade,
dificuldades para dirigir automóveis ou nas atividades cotidianas, causados por
mudanças cognitivas e que frequentemente afetam a vida e saúde dos adultos mais
velhos”, comenta o Dr. Eric Widera, especialista em geriatria da Universidade
da Califórnia em São Francisco.
Assim, quando a vulnerabilidade financeira
fosse diagnosticada e enquanto os indivíduos ainda tivessem a capacidade de
tomar decisões, eles poderiam pensar em coisas como planejamento financeiro
antecipado e na indicação de alguém, por exemplo, um membro da família, para
tomarem determinadas decisões em seu favor.
As pessoas também poderiam dar alguns passos na
meia-idade para melhorar sua proficiência financeira, ficando de olho nos
sinais antecipados de que precisam de ajuda para gerenciar seu dinheiro, na
opinião do Dr. Leslie Kernisan, um geriatra americano que mantem um blog sobre
o assunto (GeriatricsForCaregivers.net).
Um estudo intitulado “Como o envelhecimento afeta
nossas decisões financeiras” (How does aging affect financial decisions)
publicado em 2015 pelo Centro de Pesquisas da Aposentadoria (Center for
Retirement Research) do Boston College mostrou alguns aspectos desse
problema.
Um grupo de idosos, com idade média de 82 anos e
razoavelmente bem-educados, foi acompanhando por alguns anos. O score
obtido num conjunto de 19 testes aos quais os indivíduos eram submetidos
anualmente possibilitou medir as alterações cognitivas experimentadas ao longo
do tempo. Foram excluídos os indivíduos diagnosticados com sinais de demência
ao responderem o primeiro questionário no inicio do estudo. O conjunto de
testes foi usado para identificar o efeito ano a ano do declínio cognitivo no
processo de tomada de decisões, avaliando três aspectos:
- Se o declínio cognitivo
reduz a proficiência em assuntos financeiros e, consequentemente, a
habilidade de tomar boas decisões;
- Se aqueles com declínio
cognitivo perdem a confiança na sua própria capacidade de gerenciar seu
dinheiro; e
- Se estes são mais propensos
a pedir ajuda para gerenciar suas finanças.
O resultado pode ser visto na tabela abaixo:
O estudo confirmou que o declínio cognitivo, comum
em indivíduos na faixa dos 80 anos de idade, está associado a um declínio
significativo da proficiência financeira. Mostrou, porém, que grandes perdas na
cognição e na proficiência financeira causam pouco efeito no nível de confiança
que um indivíduo idoso possui em sua própria capacidade de tomar decisões
financeiras e essencialmente, nenhum efeito na confiança que tem de poder
gerenciar seu dinheiro apesar da diminuição de sua capacidade de tomar boas
decisões financeiras.
Pessoas com declínio cognitivo são mais propensas a
procurar ajuda para gerenciar suas finanças. Não obstante, conforme mostrou o
estudo, mais da metade dos idosos com declínio significativo na cognição, busca
ajuda apenas do cônjuge e de ninguém mais.
Dada a crescente dependência dos aposentados nos
planos do tipo contribuição definida, a diminuição da cognição vai,
provavelmente, causar um efeito adverso significativamente maior no bem estar
dos idosos.
Fico imaginando um idoso tendo que avaliar
qual percentual do saldo remanescente quer receber de renda em determinado ano.
Ou então, tendo que decidir se muda o saldo para outro perfil de investimentos
dentre os vários disponíveis. Ou ainda, se vai retirar um montante do
saldo acumulado e receber na forma de pagamento único em dado momento ao longo
da aposentadoria. Os desenhos dos planos de previdência complementar, permitem
tudo isso e mais um pouco....
Algo preocupante se considerarmos que mais da
metade daqueles experimentando um declínio cognitivo significativo retém a
responsabilidade primária de gerenciar suas finanças.
Há solução? Sim, existem inúmeras medidas que podem
ajudar. Os desenhos dos planos de contribuição definida, por exemplo, podem
incorporar estratégias para ajudar os aposentados nas idades mais avançadas. Se
quiser saber mais, me chame para um café que eu te conto.
Fonte: Adaptado do artigo “Aging brain
influences financial decision-making”, publicado pela Thonsom Reuters e na
pesquisa “How does aging affect financial decison making?” de autoria de
Keith Jacks Gamble, Patricia A. Boyle, Lei Yu e David A. Benneti publicado pelo
Center for Retirement Research do Boston College.
Eder Silva - Principal Wealth – Expansion
Leader – Mercer Brasil