A queda recente do mercado de ações provocada pelo medo dos
reflexos econômicos do Coronavírus atraiu o interesse de muitos
investidores. Nesse instante, sempre surge o debate: seria melhor montar uma
carteira de ações ou investir por meio de fundos de investimentos em ações
(FIAs)?
O especialista em finanças comportamentais, James Montier
argumenta que os indivíduos tendem a acreditar que suas decisões serão melhores
que a de outros. Esse viés, em conjunto com o da ilusão do controle, leva
vários investidores a acreditarem que se eles gerenciarem suas próprias
carteiras de ações, eles vão desempenhar melhor que um bom gestor de fundos de
ações.
Dentre os principais argumentos que os investidores justificam
sua preferência para gerenciarem sua própria carteira de ações se destacam:
rentabilidade e custo. Abordarei essas justificativas e outros fatores para
explicar qual deveria ser a melhor decisão para seu investimento em ações.
Risco
Normalmente, FIAs no Brasil possuem entre 10 a 30 ações em seu portfólio. Esse
número de ações não foi escolhido por acaso. A literatura sobre diversificação,
afirma que para reduzir o risco específico a patamares mínimos são necessárias
pelo menos quinze ações.
Daí vem a primeira vantagem dos fundos de ações que é a gestão
de risco eficiente. As empresas de gestão possuem áreas de risco que estão continuamente
monitorando e informando ao gestor sobre o risco de seu portfólio para que esse
possa tomar as melhores decisões.
Adicionalmente, por diversos momentos, os gestores se utilizam
de derivativos para proteção ou alavancagem do portfólio. Isso faz com que em
momentos como o atual, vários FIAs percam menos que o mercado.
Para um investidor individual, o controle sobre uma carteira de
mais de cinco ações se torna custoso em termos de tempo e dedicação. Portanto,
o risco assumido pelos investidores individuais acaba sendo maior e não
quantificado de forma adequada devido à ausência de ferramentas para cálculo.
Rentabilidade
A literatura acadêmica já produziu vários artigos argumentando que a média dos
FIAs desempenham pior que os índices de mercado. De fato, deve-se buscar bons
gestores de forma similar à contratação de uma equipe de empregados. O fato de
vários não serem bons, não faz do investidor individual ser melhor que a média.
Reflita, se vários gestores com equipes especializadas não
conseguem ganhar do Ibovespa, como esperar que uma pessoa sozinha tenha um
desempenho melhor?
De fato, as pessoas físicas não conseguem. Estudo publicado por
Bruno Giovannetti em 2018 demonstrou isso usando uma base com todos os
investidores brasileiros fornecida pela CVM.
Apenas dois fatores explicariam racionalmente uma pessoa física
ganhar mais que um bom gestor de fundo: sorte e risco. Como o investidor
individual em geral possui poucas ações em seu portfólio, ele está sujeito a um
maior risco e, eventualmente, esse risco é compensado com um maior retorno.
Equipe
As boas empresas de investimentos contam com uma equipe formada por experientes
profissionais nos campos de análise econômica, financeira, risco e na gestão.
Estes muitas vezes possuem experiência de mais de vinte anos no mercado
financeiro. Essa experiência é muito importante para que ele consiga de forma
mais rápida analisar e decidir sobre fatos novos que afetam as empresas e o
mercado.
Não há como uma pessoa sozinha substituir ou replicar os
resultados que essa equipe pode produzir simplesmente pelo número de horas
disponível.
Informação
Pela facilidade de contato que os gestores e analistas possuem com os diretores
de empresas e com outros profissionais de mercado, eles possuem acesso mais
rápido e mais fácil a informações que o investidor sozinho, provavelmente, não
conseguiria ou demoraria mais tempo para ter acesso.
Custo
Muitos investidores argumentam sobra a taxa de administração cobrada pelos
fundos. Essa taxa normalmente é de 2% ao ano sobre o patrimônio líquido do
fundo de ações.
Antes de discutir, lembro que a rentabilidade dos fundos
apresentada nas lâminas que o investidor recebe já é líquida dessa taxa de
administração e de outras que eventualmente existam como a taxa de performance.
Se você investe R$100 mil em um fundo de ações, estaria pagando
em média cerca de R$167 por mês (R$2 mil/12) para ter a sua disposição toda uma
equipe de analistas econômicos, financeiros, de risco e de gestores.
Muitas pessoas acabam gastando valor maior em relatórios
superficiais e sistemas de cotação e gráfico. Adicionalmente, considere o custo
de sua hora, ansiedade e perda de foco no seu trabalho.
Se você dispender apenas uma hora por dia para avaliar as
empresas de sua carteira, o que é ridiculamente pouco perto do que uma equipe
de um FIA trabalha, você gastaria pelo menos 20 horas em um mês. Portanto, para
um investimento de R$100 mil em um fundo, o custo da taxa de administração por
hora, considerando as 20 horas, seria de R$8,3.
Sério que sua hora vale tão pouco? Provavelmente, você gasta
mais por dia em café.
Lembre-se que os grandes empresários sabem contratar
funcionários para que sua hora seja mais bem aproveitada e consigam alavancar
os ganhos. Aprenda a delegar e terá mais tempo para o que é mais relevante.
A taxa de performance alinha ainda mais o incentivo do gestor ao
do investidor, pois quando o fundo desempenhar bem, toda equipe ganhará um
bônus por desempenho. Portanto, isso fará com que a equipe fique se cobrando
pelo desempenho continuamente.
Reinvestimento de dividendos
Um dos grandes ganhos do mercado de ações e que normalmente é relevado pelos
pequenos investidores é o poder do reinvestimento dos dividendos. Utilizando
dados da Economatica nos últimos dez anos (entre 2009 e 2019), se você investiu
R$100 nas ações do Itaú e reinvestiu os dividendos, teria hoje R$331.
Entretanto, se considerarmos apenas o ganho de capital por variação do preço da
ação teria apenas R$96, ou seja, menos do que o valor inicial.
Portanto, os dividendos e seu reinvestimento foram os únicos
responsáveis pelos ganhos no caso das ações do Itaú em uma década.
Normalmente, os dividendos pagos pelas ações são valores
pequenos para serem reinvestidos pelos investidores individuais. Na maioria das
vezes esse tesouro acaba perdendo sua grande vantagem devido à impossibilidade
de reinvestimento. Pela escala dos fundos, eles conseguem com baixo custo reinvestir
os dividendos.
Imposto de Renda
Nos fundos de investimentos em ações você é tributado na alíquota de IR de 15%
sobre os ganhos de capital, quando do resgate. Entretanto, o investidor que
aplica diretamente em ações tem uma vantagem. Os ganhos de capital não são
tributados em vendas de ações limitadas a R$20 mil dentro de um mês. Essa é a
maior vantagem para quem negocia ações individualmente.
Outra vantagem fiscal é o fato dos dividendos serem isentos de
IR. Essa vantagem é capturada quando o investidor compra diretamente ações, mas
quando o provento é recebido dentro do fundo ela não é capturada.
Sem dúvida, não pagar IR é uma grande vantagem, mas deve-se
ponderar o custo dos dois trabalhos que terá para usufruir desta vantagem.
Primeiro o trabalho na gestão do portfólio, mencionado acima. Segundo, o
trabalho na administração de prejuízos fiscais e pagamentos de Darfs mensais
nos lucros. Sem contar o fato de que o fundo ter maior probabilidade de ganhar
maior retorno.
Considerando estes sete fatores (risco, rentabilidade, equipe,
informação, custo, reinvestimento de dividendos e imposto de renda),
racionalmente, o investimento por meio de fundos de ações se mostra mais
adequado numa perspectiva de retorno ajustado ao risco.
Michael Viriato - professor de finanças do Insper
e sócio fundador da Casa do Investidor.
Fonte: coluna jornal FSP