Brasil vive
epidemia de roubos de contas em redes sociais
Criminosos ganham dinheiro todos os dias a partir do desespero das
vítimas.
Imagine só a situação. Você pega o seu celular e tenta acessar a sua
conta no Instagram.
Em vez da tela usual que você está
acostumado, aparece um pedido de login e senha. Você digita os dados e a senha
e recebe um aviso de que estão incorretos.
Repete pensando ter digitado errado
e nada muda, sua conta está inacessível para você, o dono dela. Percebe então
que seu perfil está nas mãos de outra pessoa.
E essa pessoa começa a enviar mensagens dizendo que se você não pagar um
valor solicitado, vai começar a publicar fotos e mensagens íntimas.
Afinal, o
invasor tem acesso a todo seu histórico de trocas de mensagens diretas.
Esse é
um momento de desespero, que infelizmente se tornou comum no Brasil. Há uma
verdadeira epidemia de roubos de contas em redes sociais.
A forma como esses roubos acontecem é diversa. Há uma grande
criatividade por parte dos bandidos que se profissionalizaram.
Roubo de conta
hoje não é uma atividade realizada por "hackers" isolados. É uma
indústria organizada que ganha muito dinheiro todos os dias a partir do
desespero das vítimas.
Há métodos cada vez mais sofisticados para roubar contas. Um bastante
comum é um link enviado por mensagem direta nas redes sociais ou por meio
do Whatsapp.
Ao clicar no link, as portas se
abrem para o bandido assumir a conta. Você pode se perguntar: mas quem clica
nesses links? As pessoas não estão espertas?
É nesse momento que entra a engenharia social cada vez mais sofisticada
da indústria do roubo. As mensagens enviadas são cada vez mais críveis.
Muitas
delas enviadas a partir de outras contas roubadas de amigos da vítima. O
falsário lê as conversas recentes e manda o link dentro do contexto.
Nesta
semana recebi o relato de uma conta roubada em que o link foi enviado em um
grupo de amigos que estavam combinando de jantar juntos.
Um deles teve a conta
roubada e o falsário enviou o link no grupo dizendo que era "o link da
reserva do restaurante". Todos os participantes clicaram e perderam suas
contas.
Outro vetor de ataque preocupante é relacionado às teles. Há cada vez
mais relatos de roubos do número de celular.
Nesse
caso, o bandido procura a companhia telefônica e, de posse de todos os dados da
vítima (facilmente encontrados na internet), consegue fazer a portabilidade do
chip da pessoa para si próprio.
Feito isso, acessa praticamente todas suas
contas.
Afinal, o número do celular é o portal para praticamente tudo,
inclusive resetar senhas e logins.
Esse ataque é preocupante porque não há nada que a vítima possa fazer
para se proteger. A falha de segurança é explorada do lado das teles.
A pessoa
acorda e tem todas suas contas roubadas e seu chip de celular desativado. Essa
situação desesperadora infelizmente se tornou comum no país.
O que fazer? É preciso um esforço conjunto de governo, sociedade civil,
setor privado e comunidade técnica.
A cibersegurança no Brasil entrou em colapso
desde que todos os dados dos brasileiros e brasileiras vazaram na internet.
Nessa questão você está na maioria das vezes sozinho, com uma indústria
criminosa organizada e bem-financiada à sua espreita.
RONALDO LEMOS -advogado,
diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.