Sempre tem um 'se' ou um 'mas' ocultos
Não
confie em informações parciais que omitem aspectos vitais para sua decisão.
Todos os dias me deparo com propagandas que tentam atrair a nossa
atenção contando apenas um lado da história, o positivo.
Informações que não
ajudam ou atrapalham as vendas são simplesmente omitidas. Vejamos alguns
exemplos.
“A vantagem dos planos de previdência em relação aos
fundos de investimento é a inexistência do come-cotas”, mecanismo que cobra o
Imposto de Renda antecipadamente.
Mas o anúncio omite aspectos desfavoráveis,
como a carência de 60 dias entre um resgate e outro.
As plataformas de investimento procuram atrair
investidores sugerindo “aplicação em renda fixa sem custo”.
É verdade que os
depósitos bancários, como CDB, LCI e LCA, não cobram corretagem nem taxa de
administração.
Mas, a instituição ganha um spread quando compra o título do
esmissor a 120% do CDI, por exemplo, e o vende a 110% do CDI, ficando com a
diferença. Um custo disfarçado.
“Você não paga para abrir e manter sua conta, investe em Tesouro
Direto, renda fixa e FIIs com taxa zero.” As letras pequenas explicam os
asteriscos e lá está a informação completa: “A corretagem zero é válida apenas
para ordens executadas pelo próprio cliente nas nossas plataformas digitais.
Consulte as taxas operacionais variáveis cobradas para ordens executadas pelos
canais de atendimento”.
A tabela revela os valores fixos cobrados, adicionados de um
percentual sobre o volume investido, além de informar o valor mínimo de taxa
operacional.
Para pequenos investidores, um custo inviável que pode reduzir ou
anular eventuais ganhos.
Com a alta dos últimos meses, o “investidor já recuperou as
perdas na Bolsa”.
Isso se aproxima da verdade se o investidor aproveitou a
queda para comprar mais e recompor o percentual que tinha em ações quando a
desvalorização ocorreu.
Quem aplicou R$ 10.000 em fevereiro, por exemplo,
“perdeu” 45% do capital investido em março. Se o investidor não fez nada,
mantendo a posição de R$ 5.500 esperando recuperar a perda, só voltará ao ponto
de partida quando o Ibovespa subir 80% em relação ao piso de março.
“Poupança perde para a inflação”; quem limita o
comentário crítico à poupança se esquece de listar as diversas aplicações que
não entregaram rentabilidade real e também perderam para a inflação, como
alguns fundos e planos de previdência que cobram taxa de administração elevada
e depósitos bancários, sem falar da rentabilidade negativa dos produtos de
renda variável, mas só a poupança leva a pecha de produto ruim.
“Compre seu carro ou sua casa sem pagar juros” é a
chamada dos anúncios que vendem consórcio. É verdade que não pagamos juros como
em um financiamento tradicional.
Mas pagamos taxa de administração sobre o
valor total da carta de crédito, independentemente do valor depositado. Dizer
que consórcio é investimento, ah, nesse caso não é omissão, é mentira.
Para fechar com chave de ouro, título de
capitalização. Dois exemplos, o primeiro, em texto conceitualmente correto,
diz: “Você guarda dinheiro para realizar os seus sonhos, concorre a prêmios e
ainda recebe seu dinheiro de volta no final”.
Outro, menos correto, informa que, “ao final do
plano, recebe todo o seu dinheiro de volta corrigido monetariamente”.
Mas deixa
de esclarecer que o rendimento incide apenas sobre parte do valor acumulado,
resultando em rentabilidade nula.
Aliás, venda proibida para menores de 16 anos
indica que o produto não é inofensivo.
Marcia
Dessen - planejadora financeira CFP
(“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com
Meu Dinheiro”.
Fonte:
coluna jornal FSP