Sem educação financeira, somos
país de endividados.
Além dos mais pobres, há muitas pessoas de classe média endividadas e
inadimplentes.
O lançamento da ferramenta I-SFB
(Índice de Saúde Financeira do Brasileiro) pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) é
uma iniciativa louvável.
Acentua a grande dívida das autoridades públicas para com os cidadãos
deste país, devido ao total descaso com a educação financeira, que deveria ser
disciplina ministrada desde os primeiros anos da escola.
O indicador da Febraban (em
cooperação técnica com o Banco Central, membros do sistema financeiro e
universidades) é uma ferramenta que, a partir de perguntas relativamente
simples, ajuda a diagnosticar a saúde financeira geral das
pessoas.
Está disponível no site da entidade.
Caso seu diagnóstico seja saúde
financeira frágil, minha recomendação é cortar o que puder das despesas não
obrigatórias.
Dependendo da gravidade da dívida, talvez valha a pena se
desfazer de algum bem.
Outra opção, se a dívida tiver juros muito elevados, será
renegociar e recorrer ao consignado ou ao crédito direto ao consumidor.
Alguns alegam que o grande
problema não seria a falta de educação financeira nem de um
bom orçamento, e sim de emprego e renda. Trata-se de meia-verdade.
Afinal, além
dos mais pobres, também há muitas pessoas de classe média endividadas e
inadimplentes.
A razão é simples: o desejo e a
necessidade de consumir, geralmente, não são acompanhados pelo poder de compra dos salários (em atividades públicas e privadas), nem pela receita de
microempresários e de profissionais liberais.
No caso de quem sobreviva pelo trabalho informal, obviamente, a renda
no máximo será suficiente para despesas mais básicas, como alimentação.
Sem
orçamento nem algum planejamento financeiro, ficará ainda mais difícil quitar
todas as despesas.
Guardar dinheiro para uma emergência, então, será um desafio
muito mais complicado.
Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio), no
final do primeiro semestre deste ano 69,7% das famílias brasileiras estavam
endividadas, e 82% das que deviam tinham pendências no cartão de crédito.
Além do relevante lançamento do
I-SFB, os bancos deveriam ser mais criteriosos na oferta de crédito consignado, sem induzir seus
correntistas a contratá-lo.
Lembro, também, que, no passado,
havia a promessa de redução dos juros dos créditos e dos empréstimos assim que
vigorasse o cadastro positivo.
Mas as taxas continuam na estratosfera, embora
esse rol de bons pagadores já exista desde 2011, tenha sido ativado a partir de
2013, e se tornado obrigatório há dois anos.
Acima de tudo, as instituições
financeiras têm de parar de promover o assédio ao consumo via crédito, em
especial aos consumidores idosos, e aos que tenham alguma vulnerabilidade!
MARIA INÊS DOLCI - Advogada especializada na área da
defesa do consumidor.