Condorcet levou matemática à Justiça e às eleições


Ele demonstrou que o resultado de uma votação é tanto melhor quanto maior o número de eleitores


Urna eletrônica -

 

Marie Jean Antoine Nicolas de Cantat, marquês de Condorcet, nasceu na França em 1743. Defensor das ideias liberais do Iluminismo —igualdade de direitos para todos, voto feminino, educação pública e gratuita, abolição da escravatura e da pena de morte, governo constitucional—, morreu na prisão aos 50 anos de idade.

Seu talento científico foi reconhecido desde cedo, o que o levou a se tornar matemático e não militar, como a família esperava.

Publicou trabalhos sobre cálculo, probabilidade e estatística, correspondeu-se com cientistas de renome na França e no exterior e alcançou destaque internacional, sendo eleito para várias academias de ciências.

A partir dos 30 anos, assumiu diversas funções administrativas e políticas e se interessou cada vez mais pelas aplicações da matemática às ciências sociais.

Trabalhos que publicou em 1785 contêm algumas de suas descobertas mais marcantes.

Partindo da hipótese de que as pessoas têm propensão, ainda que pequena, a tomar decisões baseadas nos fatos, Condorcet demonstrou matematicamente que o resultado de uma votação é tanto melhor quanto maior for o número de eleitores.

Com base nesse teorema, defendeu os julgamentos por júri popular, no lugar daqueles por um único magistrado. Ainda que a sua hipótese possa parecer questionável nos dias de hoje --no Brasil só homicídios são julgados por júri popular—, o pioneirismo dessas observações impressiona.

O que é ainda mais impactante, Condorcet apontou que o resultado de uma votação uninominal —cada eleitor vota em um só candidato— em geral não representa os reais desejos do eleitorado. Essa descoberta esteve na origem de importantes avanços no século 20, incluindo o famoso teorema da impossibilidade de Arrow.

Voltarei ao tema na próxima coluna.

Com a Revolução Francesa de 1789, Condorcet foi eleito deputado à Assembleia Constituinte, onde foi o principal redator do projeto de Constituição dos Girondinos, o partido moderado. Com a tomada de poder pelos extremistas, em 1794, foi encarcerado e pode ter sido assassinado em sua cela.

Em 1989 foi sepultado simbolicamente no Panthéon, em Paris, onde repousam os grandes homens e mulheres da França.

 

Marcelo Viana - diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

Fonte: coluna jornal FSP

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