Um
dos grandes erros em educação é adotar abordagens sem testá-las em escolas
Os grandes pensadores do Iluminismo eram tanto
cientistas, muitos com grandes contribuições à matemática, às ciências da
natureza e à física, como filósofos que refletiam sobre nossa condição humana
compartilhada.
Posteriormente, dentro de uma lógica instrumental, por
razões didáticas e para possibilitar maior profundidade nas abordagens, optamos
por especializar os domínios de saber e pesquisa.
Isso nos trouxe inúmeras vantagens e permitiu que
avanços importantes ocorressem em áreas mais diversas. Mas foram igualmente
relevantes as perdas: o mundo real não é separado em disciplinas, ele apresenta
problemas a desafiar nossa inventividade e senso de justiça.
Precisamos ter mecanismos para religar os saberes, tanto
na prática profissional e de pesquisa como na educação das novas gerações que
terão que enfrentar um mundo muito distinto do nosso.
Mas mesmo dentro do que é específico de cada domínio de
saber parece que há distâncias intransponíveis a demandar maior uso de
ferramental próprio de qualquer ciência, como o raciocínio matemático.
Sem olhar para indicadores de incidência de determinado
fenômeno social, por exemplo, acabamos por justificar achados de pesquisa com
argumentos impressionistas ou com hipóteses que tínhamos a priori.
Steven Pinker, psicólogo cognitivista e linguista,
ressalta em seu livro recente, “Enlightenment Now” (iluminismo já), a
importância de análises quantitativas e o uso de evidências científicas nas
humanidades.
Isso me fez lembrar das nossas dificuldades para formar
analistas de políticas sociais que não tiveram, no ensino superior, um
aprendizado sólido de estatística e um raciocínio matemático bem desenvolvido.
Afinal, políticas públicas (todas, inclusive a educação)
devem ser avaliadas em seus resultados e em seu impacto. Dizer que determinado
programa educacional é instigante, apaixonante ou que percebi as crianças
felizes não quer dizer necessariamente que funciona para assegurar aprendizado
em alto nível para todos.
Um dos grandes erros em educação é nos basearmos só em
impressões ou adotarmos abordagens em escala sem testarmos projetos num
número menor de escolas para verificar se causam bons resultados de
aprendizagem a um custo que nos permita, se derem certo, adotá-los em uma rede.
Isso não quer dizer que as aulas devam ser monótonas ou
não engajadoras. Hoje sabemos, graças a boas pesquisas educacionais que contam
com dados qualitativos e quantitativos, que aulas em que alunos participam
mais, aplicando conhecimentos adquiridos em problemas concretos, com bons
professores orientando, tendem a dar mais certo.
Claudia Costin - diretora do Centro de Excelência e Inovação em
Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
Fonte: coluna jornal FSP