Como recuperar a aprendizagem no
pós-pandemia?
Trabalho no Ceará na educação básica traz ideias que inspiram o mundo.
Os estudantes
brasileiros aprenderam menos durante a pandemia. Segundo dados do Sistema de
Avaliação da Educação Básica (Saeb), a porcentagem de alunos da rede pública
que sabiam ler frases simples no segundo ano do ensino fundamental diminuiu de
81,3% em 2019 para 59,8% em 2021.
O impacto em matemática também é visível. A
parcela dos alunos que sabiam fazer operações simples envolvendo subtração e
adição no segundo ano ensino fundamental diminuiu de 81,3% para 73,8% no mesmo
período.
Em meio a esse contexto, um
estado se destaca não só pelo que perdeu, mas por estar agindo rapidamente para
se recuperar. No Ceará, 90,7% dos estudantes sabiam ler uma frase simples em
2019.
Em 2021, apenas 69,9% tinham a mesma habilidade. O percentual dos alunos
que sabiam fazer operações simples diminuiu 10 pontos percentuais, mas se
manteve acima da média nacional.
Apesar do impacto, o Ceará ainda
tem melhor desempenho na educação do que a média brasileira.
Em estados como
Sergipe e Amapá, por exemplo, a porcentagem de alunos de segundo ano que não
sabem escrever uma frase simples é de acima de 60% (no Ceará é de 30%).
Além
disso, das 100 melhores escolas públicas de anos iniciais do Brasil, 87 estão
no Ceará, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
de 2021.
Estudos do Banco Mundial apontam
quatro fatores-chave para o sucesso do estado: incentivos para os municípios;
apoio técnico às redes municipais; sistema robusto de monitoramento e
avaliação; alto grau de autonomia para os municípios.
Além desses fatores, é
preciso haver liderança política para realizar as reformas.
Tais elementos criam um solo fértil
para que as redes municipais prosperem. O município de Sobral, já analisado por
diversos estudos e pioneiro
nas reformas educacionais, é um exemplo.
Os estudantes de Sobral têm desempenho
maior do que os países desenvolvidos de acordo com avaliação do Pisa.
Outros municípios chamam a
atenção. Um deles é Pires Ferreira, com 11 mil habitantes e um dos menores PIB
per capita do país, mas que abriga escolas posicionadas nos primeiros lugares
no Ideb dos anos iniciais em 2021.
Eusébio, localizado na região metropolitana
de Fortaleza, também se destaca. O município teve um acelerado crescimento no
Ideb nos anos iniciais, passando de 3,8 em 2005 para 6,5 em 2021.
Diante desses resultados, o
Ceará se coloca como um exemplo para o Brasil e para o mundo no desenvolvimento
de habilidades básicas.
Por isso, em março, representantes dos ministérios da
Educação de Moçambique, Nigéria, Quênia e Serra Leoa vieram ao Brasil para
conhecer a experiência do estado com apoio do Banco Mundial.
A comitiva faz
parte do Programa Acelerador, que
objetiva acelerar o progresso em habilidades fundamentais em vários países em
desenvolvimento.
Os representantes tiveram
oportunidade de ir a Sobral, Pires Ferreira e Eusébio para conversar com
membros das secretarias municipais, diretores, coordenadores e professores de
escolas.
Nessas visitas, algumas ações
essenciais para o desenvolvimento das habilidades básicas vieram à tona.
Primeiro, as reformas
educacionais nos anos iniciais para melhorar a alfabetização ajudam a
impulsionar resultados rápidos.
Segundo, as avaliações da aprendizagem são indispensáveis
para orientar as intervenções. Terceiro, os materiais estruturados com planos
de ensino orientados servem de apoio para os professores em sala de aula.
Quarto, a formação de professores continuada, a seleção meritocrática de
diretores e a estreita relação entre gestores e professores contribuem para a
qualidade de ensino.
Quinto, os mecanismos de incentivos (prêmios,
reconhecimentos ou recursos financeiros) melhoram o desempenho da aprendizagem.
Em conjunto, essas estratégias
são capazes de acelerar a retomada do aprendizado pós-pandemia e servem de
inspiração para outros países.
Em qualquer medida, o Ceará é um modelo para o
Brasil e para o mundo para assegurar o desenvolvimento das crianças.
Coluna escrita em colaboração
com minha colega do Banco Mundial Giovanna Pavlovic Quintão, profissional
júnior associado da equipe de Educação.
PABLO ACOSTA -
economista líder de Desenvolvimento Humano para o Brasil do Banco Mundial e
doutor em Economia pela Universidade de Illinois (EUA)