Comissão
tem a meta de obter recursos para que a geração atual frequente a escola e
aprenda
Educação de qualidade custa caro. Há que atrair alunos
de ensino médio
para cursarem licenciaturas —o que envolve um salário adequado e
respeitabilidade para a carreira—, fazer com que professores queiram permanecer
na profissão e contar com um mestre em cada sala de aula, para cada tempo
escolar, com tempo e condições de se desenvolverem e se atualizarem como
profissionais.
É importante também contar com um ambiente escolar
pronto para atender os estudantes e assegurar-lhes o que precisam para aprender
no século 21: uma biblioteca ou sala de leitura com acervo atualizado e computadores,
sala de aula com um número razoável de alunos que permita uma atenção
mais personalizada a diferentes necessidades de aprendizagem, quadra para
prática de educação física, laboratório de ciências, entre outras demandas,
dependendo do nível de ensino.
Evidentemente, há que haver gestão adequada dos recursos.
Há em educação, assim como em outras políticas públicas, desperdícios de
recursos na forma de absenteísmo de profissionais, deslocamento de professores
para atuar em outras áreas e investimento em atividades não vinculadas à
aprendizagem dos alunos.
Aluno do 1º ano do ensino médio
caminha nos corredores da EFASC, Escola Família Agrícola Santa Cruz, em Linha
Santa Cruz, interior do RS. A EFASC utiliza a Pedagogia da Alternância há sete
anos e tem dados que mostram os bons resultados, como o alto número de
ex-alunos na universidade ou que ainda ajudam a tocar a propriedade da família,
inovando os meios de produção. Nessa metodologia, os alunos passam uma semana
em casa e outra na escola, em regime de internato. A semana que passam em casa
(pequenas propriedades rurais que praticam agricultura familiar), os alunos
desenvolvem atividades que guiam a semana seguinte, na escola.
O tempo de aula efetivamente usado para aprendizagem é
reduzido no Brasil, como mostrou o livro “Excelentes Professores”, de Barbara
Bruns, com muita dispersão de preciosos minutos para pedir disciplina ou até
por ausência do professor da escola ou da sala.
Mesmo assim, só a boa gestão não resolve o problema de
falta de fundos para assegurar que todos aprendam.
É nesse sentido que foi criada em 2015 a Comissão
Internacional sobre o Financiamento da Educação Global, liderada pela
primeira-ministra da Noruega, com o mandato de definir como financiar
o novo Objetivo do Desenvolvimento Sustentável da Educação que preconiza
que crianças e jovens não apenas concluam a educação primária e secundária,
mas, de fato, aprendam.
Afinal, são um quarto de bilhão de crianças e jovens no
mundo fora da escola e outros 330 milhões que, apesar de matriculados, não
aprendem.
A meta da comissão é ambiciosa: obter recursos para que,
com recursos adicionais e boa gestão, seja esta a primeira geração em que todos
frequentem a escola e aprendam — “Learning Generation” (uma geração que aprende), o título da
publicação que sintetiza suas conclusões.
Ora, isso é possível ser feito no Brasil, mesmo em
contexto de crise fiscal. Há que se priorizar de verdade a educação, assegurar
que não faltem professores, que sua formação inicial e continuada seja adequada
ao exercício da profissão e sequenciar e priorizar investimentos, como fizeram
países com bons sistemas.
Claudia Costin - professora visitante de Harvard. Foi diretora de
Educação do Banco Mundial e ministra da Administração.
Fonte: jornal FSP