Quando o filho enfrenta
obstáculos para aprender, não é fácil para os pais ter empatia com a situação.
Quando as férias terminam, muitos pais voltam a ter preocupações
com a vida escolar dos filhos. Crianças e jovens que enfrentam algum tipo de
dificuldade escolar –seja ela fabricada ou real– não costumam ter problemas com
isso, mas os pais têm. Ah, e como têm!
Antes que os problemas retornem e provoquem um turbilhão de
emoções que volte a interferir negativamente na relação entre pais e filhos,
gostaria de relembrar alguns pontos para que os pais possam passar por essa
situação com um pouco mais de tranquilidade e, consequentemente, os filhos,
também.
Vamos começar com o fato de que aprender é difícil. Quando os
filhos enfrentam obstáculos no seu aprendizado escolar, não é fácil para os
pais ter empatia com essa situação. O que ele tenta ou precisa aprender, os
pais já sabem ou, pelo menos, identificam os caminhos que levam ao aprendizado.
Por isso, depois de uma ou duas tentativas de ajuda, as respostas mais comuns
dos pais são a braveza e a impaciência com o fato de o filho não conseguir
aprender algo que, para os pais, é tão simples!
Pode ser simples para quem já sabe e tem experiência de vida,
mas é complexo e difícil para os mais novos. Não tenha dúvida disso, caro
leitor. Para buscar maior identificação com esses processos pelos quais seus
filhos têm de atravessar, tente aprender algo que você ainda não saiba.
Experimente dedicar-se a aprender algo totalmente desconhecido
para você. Pode ser um jogo –xadrez, por exemplo–, um instrumento musical,
algum tipo de artesanato, qualquer coisa pela qual você não tenha um imenso
interesse. O aprendizado escolar é exatamente assim para os mais novos: eles
não conseguem dar, ainda, a importância do que aprendem para a vida. Ao passar
pela experiência, você vai constatar a dificuldade: sempre haverá algo mais
interessante e importante para você do que tal aprendizado.
Outro fato a considerar é que é preciso lembrar que, em tempos
de medicalização da educação, qualquer percalço no aprendizado pode ser
entendido como um quadro patológico ou uma síndrome, e isso faz com que escolas
e pais saiam correndo em busca de diagnósticos.
Difícil aprender a ler e a escrever? A criança pode ter
dislexia. Impossível aprender o que fazer com os números? Pode ser discalculia.
Atenção dispersa, dificuldade para "grudar a bunda" na cadeira para
estudar? Pode ser hiperatividade com deficit de atenção. E assim por diante.
O que precisa ficar bem claro para todos é que, em geral, nada
disso está em questão, e sim a total falta de interesse pela escola e de
motivação para os estudos por parte dos mais novos, no que a organização atual
das escolas colabora muito, por sinal.
Por último –apenas para esta conversa–, é preciso, também,
colocar o rendimento dos estudos em seu devido lugar. O sucesso escolar pouco
diz a respeito do potencial dos mais novos. Se hoje valorizamos tanto a
performance escolar dos filhos é em razão da construção da equação
"sucesso escolar = garantia de um bom futuro".
É bom que os pais saibam, porém, que o sucesso ou o fracasso
escolar não costumam traçar os destinos das crianças ou dos jovens, a não ser
que os pais assumam isso como uma profecia.
Mas aí será a atitude dos pais, e não o resultado escolar do
filho, que decidirá a realização ou não de tal profecia.
Rosely Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP