Conhecer
é algo que não se interrompe com o passar dos anos.
Estive recentemente na França para participar de dois
painéis sobre educação e os desafios para o futuro. Falamos muito sobre a
chamada quarta revolução industrial e as transformações que a inteligência
artificial deve trazer nos próximos anos e que impactarão de forma importante o
mundo do trabalho e, certamente, a educação.
Mas há outro elemento associado com o futuro que
abordamos: o acelerado envelhecimento da população.
Dada a queda na taxa de fecundidade das mulheres, o
bônus demográfico
vem se reduzindo, o que impactará não só os regimes deprevidência como colocará pressão sobre os trabalhadores ativos para
assegurar maior produtividade, o que demanda também melhoras na educação
oferecida.
Há, no entanto, um outro aspecto que tem sido esquecido
nas discussões: como as políticas públicas devem apoiar a população de idosos, assegurando-lhes qualidade de vida, especialmente entre os
mais vulneráveis.
Para um idoso ter uma vida digna e significativa, desde
que asseguradas moradia, sustento e autonomia, quatro elementos mais são
necessários, segundo pesquisas: uma atividade que lhe permita sentir-se útil,
autocuidado (o que inclui exercícios físicos e condições para decidir sobre sua saúde),
uma rede de relacionamentos sociais e a expansão do seu conhecimento.
Maximiano gosta de conversar com
seu passarinho e ainda reserva um dedinho de prosa para as plantas do jardim,
hábito que herdou da mulher
Sim, a política para a terceira idade
deve incluir a educação, afinal aprender é algo que não se interrompe com o
passar dos anos.
Há mesmo uma vantagem na aprendizagem que ocorre mais
tarde na vida: o caráter mais funcional do acesso ao conhecimento, associado à
profissão ou área de atuação que temos durante a vida ativa, pode ser deixado
de lado e outros saberes podem ser explorados, desde que haja interesse e apoio
para expandir horizontes.
Em muitos países existe, além da educação de adultos que
não concluíram os estudos, uma política de acesso gratuito de pessoas com mais
de 65 anos a disciplinas em cursos universitários, regulares ou moldados para a
terceira idade. No mesmo sentido, bibliotecas públicas têm atividades para a
faixa etária.
Mas nada disso funciona bem se não educarmos, desde
cedo, as crianças para gostar de aprender. Se o contato com a aprendizagem for
desinteressante e fonte de profundo sofrimento e se, além disso, as
competências básicas não forem desenvolvidas na educação básica, o adulto mais
velho terá dificuldades em considerar a expansão do conhecimento como fonte de
deleite.
O que nos faz humanos é, esta incansável, jornada de
aprendizagem que nos caracteriza. Em tempos de robôs e inteligência artificial,
só nós temos o desejo de aprender coisas novas.
Claudia Costin - diretora do Centro de Excelência e Inovação em
Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
Fonte: coluna jornal FSP