Dados recentes, divulgados pelo Banco Central do Brasil, mostram que o endividamento das famílias voltou a subir e se encontra no maior nível dos últimos três anos.
A culpa por este alto endividamento pode ser atribuída à frustração do crescimento econômico, à alta taxa de desemprego, ao elevado nível das taxas de juros, mas de fato, a justificativa é apenas uma, a baixa educação financeira.
Deste modo, compartilho algumas dicas de como os pais podem iniciar, desde cedo, a educação financeira dos filhos. Ter um filho com futuro financeiro promissor já é um presente neste dia dos pais.
Antes de sair de casa, sempre estabeleça um orçamento para a criança. Mostre o dinheiro para ela e diga que aquilo é o máximo que ela poderá utilizar. Assim, se ela quiser algo e o valor não for suficiente, você ensinará a noção de valor.
Você ainda pode estabelecer um prêmio pelo não gasto. Por exemplo, pode dizer que a ausência de consumo significará uma elevação da possibilidade de gasto no fim de semana seguinte. Desta forma, estará ensinando a gratificação pelo adiamento do consumo se mostrar que no dia seguinte ela tem um valor maior para consumo.
Crianças com menos de 5 anos normalmente ainda têm dificuldade para lidar com dinheiro. Dizer apenas “não” sem explicar o motivo deixa a criança confusa sobre a razão pela qual os pais estariam sendo “maus” com ela. Se der o orçamento para ela antes, como mencionado acima, poderá explicar o motivo.
Muitos pais pagam mesada ao filho. Esse é o primeiro passo para ele gastar.
Consumir é uma tentação difícil de resistir, sobretudo quando o dinheiro chega de forma fácil. Segundo o prêmio Nobel de Economia de 2017, Richard Thaler, você deve mudar a orientação de escolha para obter o resultado desejado.
O resultado que os pais desejam é que o filho aprenda a investir. Portanto, a mesada deve ser depositada e investida. Mas isto não quer dizer que precisa abrir uma conta para seu filho. Pode mostrar para ele em sua conta, qual parcela é dele.
Explique que o valor de orçamento mencionado no item anterior a ser gasto em uma saída foi retirado da conta dele, mas que será devolvido se não houver consumo.
A maioria das pessoas não consegue poupar, pois deixa para investir apenas o que sobra do salário no fim do mês. Também não sobrará nada da mesada de seu filho para investir ao final do mês, pois ele ainda não aprendeu a investir e desconhece os benefícios desse hábito. Se investir primeiro ele poderá aprender que esta é a ordem adequada.
Não é recomendado fazer da mesada um pagamento por estudar ou atividades domésticas, como arrumar a cama, pois essas atividades devem ser incentivadas como colaborativas. A mesada deve estar representada dentro do orçamento familiar.
- Mostre que investir é um bom negócio
Lembre-se, investir é muito mais do que apenas poupar. Com propósitos bem estabelecidos você verá que seu filho vai resistir de forma mais fácil às tentações de consumo. Mostre à criança que o ato de investir e alcançar os objetivos é como um jogo em que cada etapa vencida é um objetivo ultrapassado.
Estes objetivos devem ser construídos com ela como menciono a seguir.
- A família é uma “empresa”
Seus filhos não podem ser apenas coadjuvantes. Eles precisam participar e estarem informados sobre o planejamento familiar. Fazendo uma analogia com uma empresa, os pais seriam os acionistas majoritários e as crianças, os minoritários. Mesmos os acionistas minoritários precisam participar das decisões, pois assim entendem o planejamento e como o dinheiro está sendo utilizado para obter os objetivos da família. Esses objetivos devem ser estabelecidos em um planejamento financeiro.
Faça seu filho participar do planejamento financeiro da família. Esse plano deve conter objetivos de curto, médio e longo prazo. Mostre que se o fluxo de caixa não for atendido a família passará dificuldade. Discuta com ele os objetivos explicando que se houver um gasto não planejado, a família precisará abdicar de algum outro objetivo.
Ensine seu filho a criar seu próprio planejamento financeiro e a persegui-los. Crie junto com ele uma planilha que apresente seus objetivos. Desde os mais simples como passeios e viagens, assim como os de longo prazo como a faculdade. Inclua na planilha a receita da mesada, as despesas e quanto precisa investir para alcançar suas metas. Esteja certo que ele dará muito mais valor aos bens que ele conseguirá comprar com seu próprio recurso do que para presentes que ganha.
- Seja o exemplo que deseja ver no seu filho
Não basta explicar, é necessário que você seja o exemplo. Siga o planejamento financeiro criado para a família e habitue seu filho a revisitar esse plano para mostrar como ele está sendo praticado.
Criando estes hábitos desde cedo, ficará muito mais natural para ele dar continuidade, na idade adulta e evitará com que tenha problemas com dívidas.
Michael Viriato - professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.
Fonte: coluna jornal FSP