Com a importância cada vez maior da
"agricultura de precisão", é preciso proteger informações
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Há três projetos de lei sobre proteção de dados
pessoais tramitando no Congresso Nacional. Eles cuidam de um assunto já
conhecido mundialmente: como regular a coleta, o processamento, o tratamento e
a utilização de informações obtidas o tempo todo de consumidores e usuários da
internet?
Dentro desse debate há um tema pouco visível e
discutido, mas nem por isso menos importante. Trata-se de como proteger os
dados relativos às atividades agrícolas, hoje coletados das mais diversas
formas, seja por satélites, por colheitadeiras inteligentes, sensores ou ainda
aparelhos da chamada "internet das coisas".
O conjunto desses dispositivos leva ao que vem
sendo chamado de "agricultura de precisão". Trata-se da possibilidade
de gerenciar a produção agrária com base em dados cada vez mais detalhados,
permitindo gerir a lavoura de forma eficiente, economizando em insumos e
otimizando o resultado.
Para o Brasil se manter líder de competitividade
nessa área, vai precisar adotar cada vez mais esse tipo de análise.
A questão é a preocupação, justificável, de
produtores rurais a respeito do abuso ou "vazamento" desses dados
coletados. Como esses dados são "preditivos", isto é, permitem
projetar resultados futuros, há a preocupação de que possam ser usados para
angariar vantagens indevidas ou ainda manipular o mercado de commodities.
Preocupados com essa questão, um conjunto de
produtores rurais e empresas dos Estados Unidos assinou por meio da entidade de
classe Farm Bureau um documento chamado "Privacy and Security Principles
for Farm Data" (Princípios de Segurança e Privacidade para Dados Rurais).
Ele defende a adoção de uma série de princípios.
Por exemplo, que os dados sejam considerados como propriedade dos fazendeiros,
que são então os únicos autorizados a compartilhá-los ou não com outros
interessados.
Ou ainda que os produtores sejam notificados
previamente por parte das empresas de tecnologia agrária de que seus dados
estão sendo coletados e para qual finalidade.
Um dos aspectos do debate é que dados agrários não se
configuram como dados pessoais e, portanto, não estão sujeitos a um regime de
proteção especial. Em princípio, seriam públicos, o que permitiria que, uma vez
coletados, pudessem ser divulgados.
Outra visão intermediária é que esses dados seriam
análogos ao segredo industrial. A lei os protege contra vazamentos, mas, uma
vez vazados, não haveria muito a fazer contra sua divulgação.
Um terceiro modelo é o que está sendo defendido
pelas associações de produtores rurais, inclusive no Brasil. A ideia é que esses
dados tenham um regime de proteção própria, similar aos princípios propostos
pelo Farm Bureau. Entre as múltiplas tarefas que o país tem pela frente está a
necessidade de decidir sobre esse tema.
A tecnologia já transformou da indústria da música
ao transporte urbano, com respostas regulatórias distintas. Agricultura, chegou
sua vez de participar do debate.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em
direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil.
Fonte: coluna jornal FSP