Com a
elevação das taxas de juros no Brasil, o investidor brasileiro parece ter
voltado à era da acomodação. Acomoda-se em fundos DI e renda fixa
conservadores, acreditando que é a melhor forma de proteger seus investimentos.
Estudos estatísticos e históricos de crises passadas demonstram que o
investidor que diversifica é o que se sai melhor em períodos de incertezas.
Basta lembrar da boa
performance de fundos multimercados no pós-crise de 2008 para entender por
quê: com gestão ativa, esses fundos têm carteiras que, ao mesmo tempo,
aproveitam boas oportunidades como ações depreciadas de empresas com bons
fundamentos , estratégias no mercado externo, bem como criam estratégias em
juros e moeda estrangeira. Em poucos períodos vivemos tanta incerteza como
agora. Em 2008, tínhamos uma visão bastante clara sobre o que acontecia lá
fora.
Atolado na ciranda do
subprime, os EUA entraram em uma crise que só teve precedentes em sua história
em 1929, com a quebra das bolsas de valores. Mas o Brasil vivia um período
econômico de crescimento e estabilidade. O crescimento de nações fora do eixo
Europa/EUA nos favorecia, pois somos grande exportador de commodities. Em 2015
o cenário é bem diferente. Não bastasse a incerteza política interna,
assistimos ao tombo da economia chinesa, sem ter clareza se a desaceleração
será um pouso suave como o governo deseja. Neste momento, a China é o que mais
preocupa a todos.
Ao mesmo tempo que o
país busca fazer a transição, de uma economia basicamente exportadora para uma
economia voltada para o mercado doméstico, ele tenta evitar uma queda mais
forte no crescimento no curto prazo. As medidas de redução da taxa de juros e
corte de compulsório desde o fim do ano passado vão nessa direção. Outra medida
anunciada pelo governo chinês, a inesperada desvalorização do yuan, nos dá uma
visão positiva e nos faz acreditar que o país está indo na direção da
liberalização da economia, já que permite que as “forças de mercado” tenham um
papel fundamental para determinar o valor da moeda.
Dessa forma, o yuan pode ser uma moeda mais presente no cenário
global. No entanto, existe ainda a preocupação sobre se essa desvalorização é
ou não uma tendência mais proeminente no curto prazo. Após tantos meses com
tendência de apreciação e baixa volatilidade, a China atraiu investimentos de
arbitragem cambial e “carry trade”. Caso o governo chinês opte por reaquecer a
economia via setor externo, devese observar grande saída de capital e, assim,
uma desvalorização do yuan ainda maior, chegando a 10% ou 15%. Dessa forma,
teríamos uma indicação no cenário de moedas de que as divisas poderiam sofrer
uma pressão adicional para a desvalorização, uma vez que há perda de
competitividade em relação à China. Incluindo aí o real.
O quadro de incertezas se agrava com os EUA, Japão e a Europa
demonstrando contínuas perdas no ritmo de crescimento. E o cenário externo de
pouco crescimento para uma economia como a brasileira, que ainda depende muito
do que acontece lá fora, não é uma boa notícia. 2016 será um ano com inflação
ainda alta e crescimento cada vez pior. Estamos no meio de um ano de correção
de rota macroeconômica e de ajustes fundamentais para a sustentabilidade do
país no longo prazo. Era fundamental que isso fosse feito. Mas a cisão política
está barrando, no Congresso, boa parte do ajuste fiscal. Hoje temos baixa
popularidade do governo, cenário de deterioração do desemprego e perda de poder
de compra da população.
O retorno de confiança, neste momento, é fundamental!
Em período de tanta
volatilidade e incerteza, refugiar-se apenas em juros não é uma opção tão
inteligente. Os chamados investidores qualificados devem olhar com atenção para
a diversificação de carteiras utilizando alocações em ativos no exterior. Há
fundos multimercados brasileiros que permitem este tipo de diversificação. Já o
investidor individual pode pensar em uma carteira que inclua alguma proteção em
moeda estrangeira e uma parcela em ativos prefixados, com visão para os
próximos dois anos. Isto é importante porque, no cenário doméstico de menor
crescimento, é natural que em algum momento voltemos a falar no corte de juros.
E isso começará a
acontecer no momento em que houver desaceleração da inflação. Devido à fraqueza
nos dados econômicos nacionais, tais como o aumento do desemprego e a
consequente queda na renda do brasileiro, poderemos ter um ambiente que
propicie a queda da inflação e, consequentemente, uma janela de oportunidade
para que o Banco Central do Brasil reduza a taxa básica Selic, a partir de
meados de 2016. É bom lembrar que há outro possível cenário: em um ambiente de
menor crescimento externo e desajustes domésticos como falta de um ambiente
fiscal que propicie um cenário benigno para a inflação no médio prazo, o
governo e o Banco Central poderiam ter que voltar a ancorar as expectativas e
retomar o movimento de elevação de juros.
Mas isso será
condicionado a outros fatores, como a disparada do dólar e a um desajuste
fiscal severo, com uma consequente elevação no prêmio de risco de médio prazo e
uma necessária resposta por parte do Banco Central. Esse não é ainda o cenário
base da maioria dos agentes econômicos, mas sua probabilidade não é
desprezível. A melhor carteira para proteção, dado que vivemos em um ambiente
de alta volatilidade, pede necessário dinamismo, diversificação em juros pré e
pósfixados, moeda estrangeira e ativos hoje depreciados e com oportunidade de
forte valorização no médio prazo. Por isso, os fundos multimercados acabam
sendo um ótimo refúgio para o investidor.
Com gestão extremamente
ativa e dinâmica, estão conseguindo superar a renda fixa e oferecer ótimos
prêmios. Isso explica por que a maioria dos fundos multimercados conseguiu, nos
últimos meses, superar o CDI (maior taxa de juros praticada no mercado interbancário),
trazendo proteção e retorno ao investidor.
Damont Carvalho - sócio da Claritas Investimentos e gestor de fundos macro.
Fonte: site Assistanst