Lojas não atendem às necessidades de multigêneros, idosos, deficientes e obesos


Há muitas oportunidades para empresários que enxergarem um mundo cada vez mais variado..

 

O comércio e os fabricantes talvez ainda não tenham percebido o impacto que o atendimento à diversidade de gênero, aos direitos das pessoas com deficiência e às necessidades específicas dos idosos tem sobre o consumo. Ouso dizer, contudo, que as empresas que não oferecerem bons produtos e serviços para estes consumidores perderão muito dinheiro e participação no mercado.

Não se trata de um chute mercadológico. Estima-se que 10% dos brasileiros não se identifiquem com os estreitos padrões masculinos e femininos. Seriam, portanto, mais de 20 milhões de pessoas, superior à população de países como o Chile, ou o dobro da de Portugal.

A moda das lojas de departamento ainda é muito ditada por parâmetros conservadores. Artigos que se dividem em masculinos e femininos, para magros e obesos, para jovens e maduros limitam as opções de compra.


Consumidores fazem compras durante período de natal

Evidentemente, a oferta de produtos e serviços para segmentos da população já existe, mas não deveria ser exceção, e sim norma. Nem tampouco se restringir a grandes metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro.

No caso das pessoas com deficiências, há necessidade, por exemplo, de melhor acesso às lojas, provadores adaptados, informações com letras e números maiores, mais conforto e profissionais treinados para atendê-los de acordo com suas necessidades. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seriam 24% da população em 2016, o que hoje representaria em torno de 51 milhões de pessoas, ou seja, algo como todos os residentes na Coreia do Sul.

Quanto aos idosos, são cerca de 30 milhões de brasileiros, o equivalente à soma dos habitantes de Minas Gerais e do Paraná. Esse número vai aumentar expressivamente, pois a longevidade cresceu e caiu o número de filhos por casal. Aqui também cabe ressaltar os estereótipos sociais, como o que relega ao idoso o papel de avô, e não considera o que é, realmente: apenas uma pessoa com mais de 60 anos. Mas que, gradativamente, participará mais do mercado de trabalho, viajará, namorará, enfim, viverá como os mais jovens, embora com cuidados como evitar quedas, tratar doenças crônicas e outros desafios da idade.

Não podemos nos esquecer, também, que há grande variedade de tipos de compleição física. Uma pessoa pode ter baixa estatura e ser mais corpulenta. Não deveria ser obrigada a comprar uma calça enorme, projetada para alguém muito mais alto. Nem ser obrigada a procurar lojas exclusivas para obesos, o que, de alguma forma, seleciona as pessoas por peso.

Enfim, há muitas oportunidades para os empresários que enxergarem, sem preconceitos, um mundo cada vez mais variado, bem além dos padrões de ontem.

 

Maria Inês Dolci - Advogada especialista em direitos do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).

Fonte: coluna jornal FSP

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