Indústrias
automobilísticas brasileiras são as maiores responsáveis pelo atraso
Quase a metade dos veículos pesados (como caminhões)
novos vendidos no mundo, atualmente, já atende a padrões equivalentes ao Euro
VI, com grande redução da poluição ambiental. A China deverá adotá-lo até 2021.
No Brasil, contudo, a transição do Euro V para o VI ocorrerá somente para 2023,
se prevalecer recente decisão da Conama (Câmara Técnica do Conselho Nacional do
Meio Ambiente).
As indústrias automobilísticas brasileiras são as
maiores responsáveis por este atraso, embora suas matrizes já produzam veículos
Euro VI nos Estados Unidos, Europa, Japão, Coréia do Sul e Turquia. Alegam que
os custos aqui são maiores do que em outros países, e pedem mais tempo para se
adaptar. Mas algumas montadoras produzem, em suas unidades brasileiras,
veículos Euro VI para exportação!
O
que o consumidor pode fazer para evitar que o Brasil fique para trás no combate
à poluição do ar? Além de se manifestar sobre este atraso, só vejo uma maneira:
adiar a compra do carro zero enquanto o Euro VI não for padrão.
Algumas montadoras produzem, em
suas unidades brasileiras, veículos menos poluentes para exportação
É
verdade que a poluição veicular decorre, principalmente, de caminhões e ônibus.
Mas a queda nas vendas de automóveis zero quilômetro forçaria os fabricantes a
se mobilizar pela adoção do Proconve 8 (Programa de Controle da Poluição do Ar
por Veículos Automotores), ou P-8 (equivalente brasileiro ao Euro VI).
Segundo
o ICCT (Conselho Internacional sobre Transporte Limpo), a migração para P-8
reduziria as taxas de emissão de particulados e NOx (poluentes atmosféricos) em
quase 90% em relação ao padrão atual.
Quatro
anos de atraso na implementação do P-8, por outro lado, representariam 10 mil
mortes prematuras!
Lembro
que a inspeção veicular, um dos principais instrumentos para controle da
poluição ambiental, deveria ser obrigatória em todo o país a partir de 2020.
Mas foi suspensa por tempo indeterminado, em abril deste ano, pelo
Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Não
há mais como desconhecer o poder de compra dos consumidores como acelerador de
transformações que melhorem nossa qualidade de vida. Quem fabrica veículos,
deve ser pressionado, sim, a colaborar com a redução dos poluentes no trânsito.
A poluição mata silenciosamente,
sem alarde, mas mata.
Maria Inês Dolci - advogada especialista em direitos do consumidor, foi
coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).
Fonte: coluna jornal FSP