Viajavô e As Poderosas são dois dos sete videogames feito por e para idosos em apenas 48 horas durante a Expo Longevidade. Os autores são 42 alunos com mais de 50 anos anos da ISGAME, uma escola de games criada pelo programador Fábo Ota, que há anos aposta suas fichas no potencial desses joguinhos como uma espécie de freio ao envelhecimento do cérebro. Cada equipe podia ter apenas um integrante com menos de 50 anos, o nerd do grupo – e havia dois participantes, Lourdes e Gabriel, acima dos 80.
As sete equipes tinham de criar um joguinho com o tema viagem. Trabalharam seis horas no domingo, dia 28 de setembro e sete horas na segunda, 29. O resultado desse esforço foi submetido a um júri técnico e ao júri popular. O primeiro elegeu Viajavô e o segundo escolheu As Poderosas.
A ISGAME – International School of Games – surgiu em 2000, quando Fábio Ota montou um programa de treinamento para estagiários, com a ideia de ensinar os jovens a programar. Em 2014, a escola se consolidou e descobriu outro filão: o potencial dos games para exercitar o cérebro dos mais velhos.
Num artigo publicado na revista Nature, em setembro de 2013, um grupo de pesquisadores do Departamento de Neurologia, Fisiologia e Psiquiatria da Universidade da Califórnia mostrou que adultos entre 60 e 85 anos melhoraram seu desempenho multitarefa depois de praticarem com uma versão adaptável do jogo NeuroRacer, alcançando o mesmo nível de estudantes de 20 anos e que esse desempenho manteve-se por seis meses. Na definição dos autores, era “a primeira evidência, a nosso conhecimento, de como um videogame personalizado pode ser usado para avaliar habilidades cognitivas durante toda a vida útil, avaliar mecanismos neurais subjacentes e sirva como uma ferramenta poderosa para aprimoramento cognitivo”.
Fábio Ota foi desenvolvedor e programador e teve uma empresa que quebrou em 2005, antes de criar a ISGAMES. Em 2015, colocou o projeto na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp, que deu apoio ao projeto, que pretende comprovar o poder que a programação de videogames esconde para os mais velhos.
Ota está desenvolvendo o game Cérebro Ativo para celular, com o apoio de psicólogos, neuro-psicólogos, pedagogos e especialistas em educação física. O público é composto pelos maiores de 50 anos. O objetivo é a melhora cognitiva.
Ele diz que game não é para jovens. Aos 56 anos, ele começou a jogar aos 15 e acha que o principal desafio é superar o medo e o preconceito, concentrado na ideia de que game faz mal para a saúde. As pesquisas científicas, assegura, mostram que jogar até duas horas por dia melhora a parte cognitiva.
“Além disso, você promove a integração inter-geracional. Imagine o avô conversando com o netinho sobre videogame. E mais ainda: o avô mostrando para o netinho o videogame que ele criou. Temos vários alunos que estão fazendo jogos para seus netos. Uma forma de integração que a gente só via quando o avô ensinava a criança a jogar pião, bolinha de gude. Agora, quem sabe ele não ensina o netinho a programar?”.
Os games desenvolvidos pelos idosos não tem a pretensão de ir para o mercado – são, acima de tudo, um desafio à mente de quem tem mais de 50 anos.
Paulo Markun – jornalista
Fonte: coluna jornal FSP