A editora Penguin Random House aumentou em
34 mil metros quadrados seu armazém em Crawfordsville, Indiana, no ano passado.
Cinco anos atrás, o mundo dos
livros foi tomado por um pânico coletivo quanto ao futuro incerto da impressão.
Enquanto os leitores migravam para novos equipamentos digitais,
as vendas de livros eletrônicos disparavam, até 1.620% entre 2008 e 2010,
alarmando os livreiros, que viam os consumidores usarem suas lojas para
encontrar títulos que depois comprariam on-line. As vendas de livros diminuíam,
as livrarias lutavam para continuar abertas e as editoras e os autores temiam
que os e-books canibalizassem seus negócios.
Então, em 2011, os temores da indústria se concretizaram quando
a rede de livrarias Borders declarou falência.
“Os e-books eram um foguete subindo em disparada”, disse Len
Vlahos, ex-diretor-executivo do Grupo de Estudos da Indústria de Livros. “Quase
todo mundo com quem você falava pensava que seguiríamos o caminho da música
digital.” No entanto, o apocalipse digital não aconteceu, ou pelo menos não na
hora prevista. Enquanto os analistas antes estimavam que os e-books superariam
os livros impressos em 2015, as vendas digitais desaceleraram acentuadamente.
Agora há sinais de que alguns adeptos dos livros eletrônicos
estão voltando aos impressos ou tornando-se leitores híbridos, misturando
equipamentos digitais com papel. As vendas de e-books caíram 10% nos primeiros
cinco meses deste ano, segundo a Associação de Editores Americanos, que coleta
dados de quase 1.200 editoras. Os livros digitais representaram no ano passado
cerca de 20% do mercado, a mesma porcentagem que alguns anos atrás.
A queda de popularidade dos e-books pode indicar que o setor
editorial, embora não seja imune à revolução tecnológica, suportará o maremoto
digital melhor que outras formas de mídia, como a música e a televisão.
A surpreendente resistência da imprensa encorajou muitos
livreiros. Livrarias independentes, que foram massacradas pela recessão e a
concorrência da Amazon, estão mostrando fortes sinais de recuperação. A
Associação Americana de Livreiros contava com 1.712 membros em 2.227 locais
neste ano, contra 1.410 em 1.660 locais cinco anos atrás.
“As pessoas falavam sobre a morte dos livros físicos como se
fosse apenas uma questão de tempo, mas mesmo daqui a 50 ou 100 anos o livro
impresso será uma grande parcela de nossos negócios”, disse Markus Dohle,
executivo-chefe da editora Penguin Random House.
Na livraria BookPeople, em Austin, Texas, as vendas cresceram
quase 11%, fazendo de 2015 o ano mais rentável da loja, disse o sócio Steve
Bercu. Ele atribui o crescimento do negócio, em parte, à estabilização do setor
gráfico e a novas práticas na indústria, como o programa de abastecimento
rápido da Penguin Random House, para repor os estoques rapidamente.
“O terror do e-book mais ou menos passou”, disse ele.
Os altos preços dos e-books também podem estar levando os
leitores de volta ao papel.
Conforme as editoras renegociaram as condições com a Amazon no
ano passado e exigiram a capacidade de definir seus próprios preços de e-books,
muitas começaram a cobrar mais.
Já que a diferença de preço entre um e-book de US$ 13 e um livro
brochura é pequena, alguns consumidores preferem a versão impressa.
Os serviços de assinatura de e-books, baseados nos modelos de
empresas como Netflix e Pandora, tiveram dificuldades e alguns fecharam.
A Amazon, que controla cerca de 65% do mercado de e-books,
lançou um serviço de assinaturas no ano passado, cobrando US$ 10 por mês por
leitura digital ilimitada. Ela oferece mais de um milhão de títulos, muitos de
autores autopublicados.
Alguns executivos de editoras dizem que o mundo muda depressa
demais para se afirmar que a onda digital está perdendo força. “Talvez seja
apenas uma pausa”, disse Carolyn Reidy, presidente da Simon & Schuster.
“Será que a próxima geração vai querer ler livros em smartphones
e veremos mais uma bolha estourar?”
Alexandra Alter – jornalista
do New York Times.
Fonte: suplemento NYT do jornal
FSP.