Nos últimos 20 anos, a neurociência avançou muito, em pesquisas
sobre o mapeamento do cérebro e suas funções, de forma cada vez mais detalhada,
tanto nos campos de sua natureza localizacionista (estuda as regiões do cérebro
e suas funções) quanto de sua natureza distribucionista (estuda, em mapeamentos
mais profundos, que todas as regiões do cérebro exercem atividade, para
qualquer função).
Sobre o conceito localizacionista, a teoria do cérebro trino, do
neurocientista norte-americano Paul Maclean (1913-2007) foi a que mais se
consagrou neste campo de estudo. A teoria indica que temos 3 cérebros: o
cérebro reptiliano, que é o cérebro dos répteis; o cérebro límbico, ou sistema
límbico, que é o cérebro dos mamíferos, abrangendo nossa psique emocional; e,
por fim, nosso neocórtex, que representa a evolução das espécies, em seu mais
alto nível psicológico, que é o do ser humano. Nosso neocórtex, supra desenvolvido,
é o que mais nos diferencia de todas as outras espécies de seres vivos. Tal
evolução, deu origem, por exemplo, à escrita e à fala humana.
Embora nosso neocórtex seja nosso cérebro racional; o límbico, emocional; e o
reptiliano, irracional, dentre estas três esferas neuro anatômicas,
surpreendentemente, a que mais influencia na comunicação humana, segundo
diversos estudos já realizados, é o cérebro reptiliano. Nesta região,
encontram-se nossos medos, defesas, ataques, fome, sono, e tudo de mais primitivo
que existe em nós, sobrepondo-se tudo que seja fundamental para nossa
sobrevivência.
Já, sobre o conceito distribucionista, em tempos mais recentes, os estudos da
neurociência, transcenderam, além do distribucionismo de nossas conexões
cerebrais. Novas pesquisas mostram que existe, em termos de consciência, uma
esfera ainda mais primitiva do que nosso cérebro reptiliano: nosso coração.
Uma verdadeira revolução começa a acontecer sobre os estudos
médicos acerca do coração, tal como seu nível de consciência, através de seus
neurónios e circuitos elétricos recém descobertos, e, ainda, sua conexão direta
com o cérebro.
Atualmente, um grande centro de pesquisas, nos Estados Unidos, chamado
Instituto de Matemática do Coração (HeartMath), analisa, meticulosa e
profundamente as atividades de nosso coração, com objetivo de descobrir novas
funções e influências que o órgão pode ter sobre o cérebro e sobre o corpo
humano. Um dos projetos do Instituto é estudar a coerência e a colaboração
mútua, existentes entre o cérebro e o coração.
Neste
contexto, já se sabe, através das mensurações do Instituto, que o coração tem
cerca de 40 mil neurônios, e um impulso elétrico 60 vezes maior do que o do
cérebro (mesmo com uma quantidade bem menor de neurônios). Tal circuito, gera
um campo eletromagnético que pode ser até 5 mil vezes maior do que o do
cérebro, o que corresponde a um campo de 4 a 5 metros de cumprimento, podendo
estender-se ou ajustar-se com maior resiliência do que o campo cerebral. Estas
descobertas, demonstram que alguns fenômenos que antes eram considerados apenas
de natureza cerebral são também relativos ao campo do coração, nas relações
humanas. Mas, o mistério em torno do número de neurônios do coração ser
bem menor do que o do cérebro, e, ao mesmo tempo, seu campo eletromagnético ser
maior, essa questão inspira pesquisadores do mundo todo a estudarem de maneira
vertiginosa, até conseguirem compreender como é possível tal fenômeno.
Se há neurônios no coração, e, ainda, campo eletromagnético, naturalmente é
possível se concluir que a neurotransmissão conhecida pela ciência entre
cérebros, durante um diálogo humano, também acontece entre corações. O processo
de Rapport (francês, relacionamento), por exemplo, bem
como toda neurotransmissão ocorrente em nossas relações sociais, pode acontecer
não apenas por via cerebral, mas sim, também, através da comunicação entre
nossos corações. Além do Rapport, tal
descoberta, nos faz refletir sobre diversos conceitos e estudos científicos
consagrados, já pesquisados, ao longo da história, como os da Cocriação,
Hipnose, Eletromagnetismo, Coaching, Psicologia
Transpessoal
dentre muitos outros.
Sobretudo,
nos próximos anos, muitos destes estudos neuro científicos podem ser revistos e
ressignificados, conforme o que for comprovado, desta interligação entre a
mente e o coração. Por outro lado, tais estudos não perdem sua validade, no
campo das relações humanas, bem como a influência da neurotransmissão cerebral,
no processo de comunicação. Mas, nesta nova jornada de pesquisas, a comunicação
humana, em sua totalidade, ganha um novo componente, influenciador destas
relações, que é o nosso coração.
Ao que parece, e com base nas práticas do Instituto, o coração
pode, de forma intuitiva, influenciar mais nossas relações do que imaginamos,
e, talvez, ser, até mesmo, o maior influenciador de nosso comportamento e de
nossas tomadas de decisões.
Sabemos que o cérebro não sente nada. O cérebro apenas pensa e manda o sinal
eletromagnético para o corpo. O Corpo é que sente, incluindo o coração. Se o
cérebro pensa, e envia ondas eletromagnéticas para o corpo, que, por sua vez,
sente, sendo assim, um dos objetivos dos pesquisadores é descobrir o quanto o
coração serve como intermediador, entre o pensar e o sentir de nosso organismo.
Historicamente, por exemplo, muitas pessoas já enfartaram,
subitamente, ao receber notícias ruins, de maneira que seus corações não
aguentaram sentir tal surpresa desagradável. Outrossim, empiricamente, sabemos,
também, do quanto elevamos nossas mãos aos nossos corações quando nos
referirmos a nós mesmos, principalmente, em momentos de generosidade e ternura.
O mesmo fazemos, quando queremos expressar amor e gratidão a alguém, e, neste
caso, batemos com nosso punho, de maneira forte, em nosso peito, no lado em que
fica nosso coração, para expressarmos nosso sentimento. Muitos desses
movimentos corporais são realizados por nós, de forma intuitiva e inconsciente,
mas, o fato é, que, na prática, nos direcionamos ao nosso coração, em diversas
ocasiões, muito mais do que percebemos.
Ainda, no campo empírico, reconhecemos, também, quando nosso
coração é capaz de acelerar em situações boas, como, por exemplo, em um
reencontro com alguém que nos seja muito querido; e, ainda, em situações ruins,
como em casos de stress. Ao contrário, o quanto nosso coração bate mais calmo
em momentos de paz.
Sobretudo, o coração é o primeiro órgão humano a se formar de um
embrião, em um processo de gestação. Através deste, e de outros dados, quando
conjugamos as informações que já se tinha antes, com as novas descobertas,
estudar o coração, de forma cada vez mais científica, é bastante empolgante
para pesquisadores do mundo todo.
Acredita-se que em um futuro bem próximo, tais pesquisas nos
mostrarão um poder de consciência muito elevado sobre nosso órgão vital.
A crença, por exemplo, de que nosso cérebro reptiliano seja o nosso nível de
consciência mais primitivo e instintivo, pode ser surpreendida por novas
revelações sobre o nível de consciência primitiva de nosso coração. Talvez,
iremos descobrir que estes sinais reptilianos se antecedam no coração. Na prática,
os estudos seguirão não apenas observando-se e mensurando-se a influência do
cérebro sobre o coração, mas, também, a do coração sobre o cérebro, e, ainda,
sobre todo o nosso corpo e toda nossa psique, já que o coração, segundos estes
novos estudos, também é parte de nossa consciência.
Portanto, não sejamos apenas corpo e mente, sejamos, também,
mente e coração. Antes se pesquisava o eixo mente-corpo, agora, estuda-se uma
forma de encontrar um eixo mente-coração. Que, por questão lógica, já sabemos
que coexiste, mas, ainda não o consentimos de forma consciente. Contudo,
elevarmos nosso conhecimento científico para tal eixo pode ser vital, para
diversos aspectos de nossas vidas, tais como, para o nosso autoconhecimento,
nossa longevidade, e, principalmente, para que haja, entre nós, mais
amor. Pois sendo o coração parte do nosso corpo, e, ao mesmo tempo, parte
de nossa mente, naturalmente, há um eixo mente-corpo, mas, também, um eixo
mente-coração.
Daniel
Lascani |
Jornalista. Publicitário,.Pós-graduado em
Psicologia Analítica (PUC/Rio)
Fonte: site psicologia.pt